Pakistan · 6 outubro 2019 · 5 Min
AKDN
O Sistema de Alerta Antecipado da AKAH (EWS), instalado em Sherqilla, Ghizer, está a apoiar as comunidades a retirarem-se para lugares mais seguros perante condições meteorológicas adversas, através da transmissão de dados e informações para o desenvolvimento de alertas meteorológicos diários. Ao longo dos milhões de anos da história da humanidade no planeta Terra, nunca o habitat humano esteve tão vulnerável como hoje. Com as alterações nas condições climáticas, os desastres naturais continuam a piorar a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo. O modelo de crescimento escolhido após a II Guerra Mundial levou ao aquecimento global e, como resultado, o globo é um lugar mais inseguro - não apenas para os seres humanos, mas para todos os tipos de espécies vivas e os seus habitats.
Isto verifica-se especialmente nos países subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento, que em muitos casos são os menos responsáveis pelas causas das alterações climáticas. O Paquistão, por exemplo, está entre os 10 países que mais sofrem com o impacto das alterações climáticas, ao passo que a sua contribuição para as emissões de gases de efeito estufa é inferior a um por cento do total global de emissões. Chuvas fortes, aumento do degelo glacial, cheias provenientes do rebentamento de lagos glaciais e avalanches estão a tornar-se fenómenos permanentes. Na última década, o Paquistão enfrentou situações de cheias de médio e grande escala quase todos os anos; 2010 e 2015 foram os piores anos, com milhões de pessoas a ficarem desalojadas. Perderam-se milhares de milhões em propriedade, piorando a economia já de si frágil e aumentando a pobreza.
Essa situação está a levar certos povos a migrar de áreas nas quais vivem há gerações. Os refugiados climáticos estão a aumentar. As pessoas estão a mudar-se das áreas rurais para os centros urbanos e acabando a viver em bairros de lata - escapando de uma desgraça para se meterem noutra.
A Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH) tem o mandato de ajudar as comunidades a criar habitats humanos seguros e resilientes, com serviços melhoras, em comunidades onde imaginem um futuro para si mesmos. Está principalmente focada em programas relacionados com a adaptação e a mitigação das alterações climáticas. O planeamento de habitats é uma atividade importante na qual a Agência, através de avaliações do risco de vulnerabilidades (HVRA), identifica locais seguros nas áreas abrangidas pelo programa como zonas habitáveis. Até agora, avaliou cerca de 800 povoados no Paquistão, a maioria dos quais em áreas montanhosas do norte do Paquistão. Também identificou áreas expostas a um ou vários riscos naturais e áreas mais seguras face a desastres naturais.
A landscape view of Community Resource Center in Ishkarwaz Broghil built using combination of local architecture and prefabricated technology, completed under a recent project of AKAH, to provide space for vocational trainings, community events and to showcase local handicrafts.
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Através dos seus programas comunitários de gestão de desastres e mapas de risco sísmico, a AKAH forma as comunidades para que estas construam em áreas mais seguras e usem áreas de risco para a silvicultura ou agricultura comunitária. Em alguns casos, a terra reaproveitada serve para mitigar as áreas de risco.
A AKAH também identificou vários povoados onde uma grande parte do povoado e da população estão expostos a um alto risco, mas onde resta muito pouco espaço seguro. A AKAH está a trabalhar com as comunidades no estudo de opções de relocalização para áreas mais seguras que apresentem também oportunidades de crescimento futuro. Foram identificadas cinquenta comunidades deste tipo nas comunidades montanhosas do norte do Paquistão. A AKAH pretende trabalhar com os governos locais, sociedade civil e comunidades para investir em infraestruturas de serviços nas zonas mais seguras, criando deste modo áreas de oportunidades para a população em risco. Em áreas expostas a um risco baixo e médio, a AKAH tem construído infraestruturas de mitigação contra cheias, torrentes de detritos e erosão de rios. Atualmente, a AKAH está a trabalhar num projeto experimental para reduzir o risco de avalanches de neve. Nos últimos três anos, trabalhou com cerca de 100 comunidades na construção de infraestruturas de mitigação que tornem os povoados mais seguros.
A AKAH também trabalha com centenas de comunidades em todo o Paquistão para desenvolver as capacidades destas no combate a situações de desastre através da consciencialização, desenvolvimento de equipas comunitárias de resposta a emergências (CERT), armazenamento de reservas, formação de equipas de busca e salvamento (SART), sistemas de alerta antecipado comunitários e mecanizados, e do estabelecimento de comunicações seguras com comunidades isoladas. As CERT, que são as primeiras a responder em situação de desastre, intervieram em centenas de situações de emergência e salvaram milhares de vidas. Em 2017, quando vale de Ishkoman ficou inundado na sequência de cheias provocadas pelo rebentamento de um lago glacial do glaciar de Badswat, as CERT evacuaram 200 habitações. Em 12 horas, a cheia atingiu mais de 40 casas, mas graças às CERT, não houve vítimas. Existem dezenas de histórias destas.
No âmbito do seu programa de segurança escolar, a AKAH trabalhou com mais de 1.000 escolas de todo o país, formando centenas de professores e milhares de estudantes acerca das abordagens para a redução do risco de desastres.
As comunidades montanhosas do norte do Paquistão estão altamente dependentes da floresta natural, que representa apenas 9% da área terrestre total. Estudos mostram que 95% das famílias de Gilgit Baltistão usam madeira como o principal material de construção das suas habitações. Em média, são usadas seis a oito árvores maduras em cada nova casa, e todos os anos são construídas aproximadamente 3000 novas unidades habitacionais. Da mesma forma, 86% das famílias usam biomassa como combustível para aquecimento e na cozinha. Esta situação está a exercer uma grande pressão sobre os já escassos recursos florestais.
No âmbito do seu Programa de Melhoramento de Edifícios, a AKAH desenvolveu mais de 60 soluções diferentes para o melhoramento de habitações, incluindo produtos de eficiência térmica e fogões de cozinha otimizados que reduzem o consumo de lenha até 60%. Também foram introduzidas soluções inovadoras para o reforço de paredes, reduzindo o uso de madeira. No âmbito do BACIP, foram instalados mais de 100.000 produtos em mais de 40.000 casas - beneficiando praticamente meio milhão de pessoas nas comunidades montanhosas. Nos últimos dois anos, mais de 1000 famílias tiveram acesso a soluções de energia solar com vista à iluminação das suas casas.
Mountain communities using portable solar panels provided by AKAH to generate light and overcome power outage issues.
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Para além disso, uma vez que a gestão eficiente dos recursos hídricos é uma questão essencial a nível internacional no combate às alterações climáticas, a AKAH (através do Programa de Expansão de Água e Saneamento (WASEP)) montou com sucesso um sistema comunitário de gestão de água nas comunidades montanhosas. Através do seu programa de seis componentes (infraestruturas, operação e manutenção, dotação da comunidade, saúde e higiene e sistema de qualidade da água), é oferecida à comunidade uma solução integrada para o fornecimento de água potável durante todo o ano. Até agora, o WASEP já chegou a 600 comunidades, beneficiando mais de meio milhão de pessoas através do fornecimento de água potável de acordo com os padrões da OMS. Os esquemas são controlados, geridos e mantidos pelas próprias comunidades.
A construção resistente ao clima é um ponto essencial no programa de construção de edifícios da AKAH. A AKAH adota projetos amigos do clima no desenvolvimento de projetos de construção da AKDN. Por exemplo, o recém-concluído Hospital de Bamyan, no Afeganistão, obtém 60% das suas necessidades energéticas a partir da energia solar. Até agora, a AKAH já construiu mais de 12.000 metros quadrados de edifícios nos quais foram adotados princípios de design amigos do clima e resistente à atividade sísmica.
Ao longo dos anos, a AKAH já venceu vários prémios internacionais, incluindo o Prémio Ashden, o Prémio de Habitat da ONU, o Prémio Alcan e o Prémio da British Social Housing Foundation. A AKAH tem beneficiado, direta ou indiretamente, milhões de pessoas através dos seus programas e abordagens, os quais estão a ser replicados a nível regional em geografias semelhantes.Acerca do sucesso da AKAH, o Presidente Executivo Nawab Ali Khan afirmou: “Os sucessos da AKAH são resultado da sua abordagem centrada na comunidade e das fortes parcerias com o governo, financiadores e outros parceiros nacionais e internacionais. A AKAH acredita que, através de parcerias e sinergias com o governo e outros parceiros, e colocando a comunidade no centro da equação, poderá ser criado um habitat melhor onde se possa viver em segurança, e no qual as comunidades consigam vislumbrar um futuro para si mesmas. As nossas parcerias trazem esperança e vemos essa chama nos olhos das pessoas.”