Por Sua Alteza o Aga Khan, Lisboa, Portugal · 8 maio 2009 · 4 Min
Exmo. Senhor Professor Oliveira e Arantes Exmo. Senhor Ministro da Defesa Nacional, Dr. Nuno Severiano Teixeira Exmo. Senhor Ministro da Cultura, Dr. Pinto Ribeiro Exmo. Senhor Núncio Apostólico, Rino Passagata Excelências, Exmos. Senhores Membros da Academia de Ciências de Lisboa, Ilustres convidados, Senhoras e Senhores,
É para mim uma imensa honra estar aqui hoje e ter sido investido para a Academia das Ciências de Lisboa. Recorda-me o dia em que me foi atribuído um doutoramento “honoris causa” pela Universidade de Évora. E eu não desejo que esta ocasião passe, sem relembrar desse dia muito, muito especial.
Vós aqui na Academia sois os guardiões do velho conhecimento e promotores do novo conhecimento. E pensei em partilhar com vós hoje, de forma breve, algumas da reflexões que me ocorreram desde que completei as minhas viagens pelo mundo em desenvolvimento durante o meu Jubileu de Ouro.
Visitei vários países em África, na Ásia e no Médio Oriente e estive em contacto com homens e mulheres que eram inteligentes, maduros, responsáveis e que procuravam criar Estados-Nação que fossem autónomos, bem governados, e com economias competentes, tendo verificado que estes dinamizadores procuravam construír com base num enorme déficit de conhecimento. Estes homens e mulheres em cargos públicos simplesmente não tinham acesso à demografia de homens e mulheres que são suficientemente educados para serem capazes de gerir as instituições do Estado.
E vim-me embora com outra questão que decorre da minha constatação de que existe um déficit de conhecimento. A principal questão é, existe um déficit de que conhecimento? Que conhecimento é necessário nestes ambientes, para que nas próximas décadas possamos olhar para Estados-Nação estáveis por esse mundo fora?
A minha conclusão foi a de que o déficit de conhecimento está presente em muitas áreas que não estão a ser disponibilizadas pela educação, que não estão a ser ensinadas. Porque o que se herdou foram os currículos do passado, as reflexões do passado, as atitudes do passado, ao invés de olhar em frente, de perguntar o que precisam as gerações futuras de saber. E esta é a questão central que precisa de ser colocada, e para a qual uma Academia como esta pode ter um enorme impacto.
Deixem-me mencionar três áreas. Primeiramente, temos a natureza da sociedade nestes países. Uma das características de todos estes países é que têm sociedades pluralistas. E se o pluralismo não faz parte dos currículos educacionais, os líderes e as pessoas dessas sociedades estarão sempre em risco de conflito, pois não estão habituadas ao pluralismo e não saberão valorizá-lo. As pessoas não nascem a valorizar o pluralismo. Assim, o pluralismo é um tema que precisa de fazer parte da educação, desde a mais tenra idade.
Outro aspecto é a ética. Não a ética proveniente do dogma, mas a ética na sociedade civil. Porque quando os governos falham nestas partes do mundo, é a sociedade civil que intervém para sustentar o desenvolvimento. E quando a ética não faz parte da educação, do ensino, da avaliação; quando não integra a medicina, a qualidade dos cuidados de saúde; quando não faz parte dos serviços financeiros, então a sociedade está minada. A ética nas sociedades civis é outro aspecto absolutamente crítico.
O terceiro exemplo é a constitucionalidade. São tantos os países que visitei que têm se deparado com obstáculos e enfrentado dificuldades ao nível da governação, porque as respectivas constituições nacionais não foram desenhadas e concebidas para servir o perfil desses países. E, por isso, o ensino em áreas como a governação comparativa é outro dos aspectos absolutamente críticos.
E se são estes os temas necessários hoje, quais serão os necessários para o futuro? Irá o mundo em desenvolvimento continuar com este déficit de conhecimento? Ou vamos permitir-lhe avançar e entrar em novas áreas de conhecimento? É minha convicção que temos de ajudar estes países a caminharem para novas áreas de conhecimento. E neste sentido, penso em domínios como o da ciência espacial, como o da neurociência. Existem tantas novas áreas de pesquisa que, a menos que façamos um esforço para partilhar globalmente, continuaremos a ter vastas populações em todo o mundo que vão continuar neste déficit de conhecimento.
Portugal tem uma história extraordinária. Tem influenciado o mundo durante séculos. A vossa influência hoje não está limitada à Europa. A vossa influência é massiva através da vossa presença na América do Sul. Um país como o Brasil é um caso de estudo para muitos países em todo o mundo. O Brasil está a lidar com novas áreas de conhecimento no transporte aéreo, que é um novo campo do conhecimento, competindo com os melhores do mundo em áreas como a agricultura; no desenvolvimento tecnológico de colheitas nas culturas de caju e de cana-de-açúcar.
Por isso, a influência de Portugal e a capacidade de Portugal para influenciar o que está a acontecer pelo mundo fora é enorme. E é neste contexto que quero agradecer-vos por me terem elegido como membro da Academia e pela oportunidade que me deram para vos encorajar a usar a vossa influência global, através da vossa história, do vosso conhecimento, através dos vossos contactos com o mundo em desenvolvimento, para trazerem ao resto do mundo o que há de melhor no vosso conhecimento.
Obrigado