Por Sua Alteza o Aga Khan, Maputo, Mozambique · 16 dezembro 2010 · 6 Min
Bismillah-ir-Rahman-ir-Rahim
Vossa Excelência, Senhor Presidente Excelências Caros Convidados Senhoras e Senhores
Permitam-me que inicie por expressar a minha honra e alegria por receber Sua Excelência, o Presidente da República de Moçambique nesta ocasião.
Este dia, no qual assinalamos a abertura de um novo símbolo para a indústria da hospitalidade Africana é, de facto, grandioso – a nova jóia da coroa do Grupo Serena Hotel – e constitui uma nova referência no progresso económico de Moçambique.
Há algum tempo que ansiamos por esta celebração – ela marca o ponto alto de um processo complexo. E é agradável celebrar este momento com aqueles que dedicaram tanto talento e energia a este processo – e que tornaram este momento possível.
É um prazer dar-vos as boas vindas.
A palavra especial “boas-vindas” encontra-se, hoje, no centro dos meus pensamentos. Afinal, o objectivo deste Polana Serena Hotel reconstruído é o de receber pessoas de todos os pontos do País, do continente e do planeta e de contribuir para que se sintam “bem-vindos” em Moçambique.
Recordo-me muito bem do dia – há pouco mais de doze anos – quando o Presidente Chissano me deu as boas-vindas a Maputo, por ocasião da assinatura do Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento entre o Governo Moçambicano e a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. A nossa celebração cresceu dessa iniciativa – e gostaria de proferir algumas palavras sobre o desenvolvimento da nossa cooperação desde essa altura. É uma história ampla, da qual a história do Polana é a parte final.
Essa história inicia-se com o meu enorme respeito por este país, pelos seus líderes e pelo seu povo, e pelo progresso que alcançaram na recuperação de um período extremamente difícil resultante do tumulto pós-colonial. Uma razão para este progresso, na minha opinião, foi o crescente respeito por parte de Moçambique, pela escolha de decisões práticas e profissionalmente especializadas na tomada de decisões para o desenvolvimento, ao invés de se deixar levar por dogmas teóricos ou por fórmulas arbitrárias. Outro factor que senti, foi a importância que esta sociedade atribui à inclusão – no acolhimento de inputs de cooperação de diversos detentores de interesse – quer oriundos de instituições públicas quer do sector privado, da sociedade civil, e da comunidade internacional.
Como será do Vosso conhecimento, o mundo em desenvolvimento, de uma forma geral – e África particularmente – tem sido o foco central do meu trabalho ao longo de meio século. O período colonial estava prestes a terminar quando me tornei Imam da Comunidade Shia Imami Ismaili, e um significativo número de países recentemente independentes enfrentavam, repentinamente, oportunidades e desafios de complexidade sem precedentes.
Uma lição que rapidamente aprendemos sobre o processo do desenvolvimento, foi que os pressupostos correntes no tocante ao investimento – os quais haviam resultado nas economias ocidentais em períodos antecedentes – não iriam produzir os mesmos resultados no mundo pós-colonial. O capital privado que ambicionava retornos rápidos – ao mínimo risco – não fluiria facilmente – e seria necessário procurar ou gerar outras fontes de financiamento de raiz. Foi por essa razão que criámos o AKFED – o Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico – que tem sido o investidor principal deste projecto do Polana.
O objectivo do Acordo assinado há doze anos pelo Presidente Chissano e por mim, assentava na criação de uma plataforma para a presença máxima em Moçambique de todas as capacidades da nossa Rede – económica, mas também social e cultural – e temos vindo a fortalecer essa plataforma desde então.
A maioria do nosso trabalho, como poderão saber, inclui as áreas a norte, em especial no Cabo Delgado. As iniciativas incluem o Programa de Apoio para o Desenvolvimento Rural na Costa Litoral, o qual integra as áreas da saúde, da educação e do desenvolvimento rural em mais de 200 aldeias e que beneficia mais de 160 mil habitantes. O nosso programa Pontes para o Futuro constitui um programa paralelo e contribui na atribuição de bolsas de estudos, estágios, cursos de Inglês e cursos de formação em Gestão. O terceiro elemento é a Agência Aga Khan para a Microfinança, que concede empréstimos para a geração de rendimento em actividades de pequena escala – já foram concedidos aproximadamente 7500 empréstimos neste país.
Simultaneamente, também, procurámos colaborar com alguns projectos de maior escala como o Moztex, uma nova unidade fabril destinada à produção têxtil para exportação, e que actualmente emprega aproximadamente 600 trabalhadores, sendo expectável que este número duplique no futuro próximo, focando-se na criação de postos de trabalho para as mulheres.
E, claro, devo também referir a recente empresa de cabo de fibra óptica, a SEACOM, que actualmente liga a África do Sul e a África Austral à Europa e à Índia.
Permitam-me também referir um projecto actual de Moçambique que se encontra particularmente junto do meu coração – a Academia Aga Khan. O projecto arquitectónico para essa escola tem conhecido um progresso excelente e contamos que os trabalhos conducentes à construção comecem no início do próximo ano. Isto significa que a construção da Academia coincidirá de forma satisfatória com os primeiros formandos em docência pela nossa recente unidade de formação para docência na Matola, o Centro de Desenvolvimento Profissional. A Escola e esta unidade de formação para a docência, representam, de forma estratégica, projectos parceiros – em que um apoia o outro – e é positivo que esta materialização académica esteja operacional até ao ano de 2013.
Os nossos esforços ao longo da última década têm sido diversificados, e a diversidade deverá continuar a manter-se como palavra de ordem. Parece-me claro, por exemplo, que a melhoria da actividade agrícola poderá apenas constituir uma parte de uma estratégia de longo prazo – a certa altura, o potencial de crescimento da agricultura diminuirá – e deveremos encorajar outras actividades que continuarão a impulsionar o crescimento contínuo.
Uma categoria económica que poderá incorporar esse impacto impulsionador, especialmente em África, é o sector do turismo e do lazer. É por essa razão que a nossa organização AKFED tem realizado investimentos significativos neste sector. E é por esse motivo que a inauguração do Polana Serena Hotel, hoje, se reveste de tamanha importância.
Existe outro contexto mais alargado que gostaria de referir hoje – a história do Grupo Serena Hotel no geral. Olhando para trás, para quase quatro décadas, o Grupo Serena tem contribuído de forma significativa para o progresso das localidades onde opera. E é nossa intenção que o mesmo aconteça neste país.
Para começar, atrair visitantes para este país – quer sejam, líderes empresariais ou turistas, visitantes pontuais ou clientes habituais – criará divisas durante essas estadias – assim como, mais tarde, surgirá o investimento estrangeiro frequentemente resultante dessas mesmas estadias. E, em ambos os casos, resultarão efeitos multiplicadores significativos para outras empresas, assim como para a receita pública.
Conforme o Grupo Serena apreendeu em tantos outros locais, a existência de infra-estruturas de hospitalidade ao nível internacional podem constituir componentes fulcrais ao que chamamos um “ambiente facilitador” – um meio no qual iniciativas adicionais para o desenvolvimento poderão ser enraizadas e florescer.
Assim, todos os que contribuíram para o renascimento do Polana merecem o nosso profundo agradecimento, assim como os nossos parceiros neste empreendimento – o Governo de Moçambique, os nossos parceiros de investimento da Alemanha e da França, os arquitectos e designers, os empreiteiros e os decoradores, e todos aqueles que compõem a equipa do Serena.
Gostaria de concluir voltando à palavra que utilizei no arranque destes comentários, à palavra “boas vindas”. É uma palavra que certamente sumariza o espírito deste evento, ao mesmo tempo que exprime, também, a missão essencial de todo o projecto Polana. É uma palavra que assinala a contribuição que este país e esta unidade farão perante um mundo mais alargado de exploração, compromisso e de cooperação.
E é nesse mesmo espírito que vos dirijo hoje os meus cumprimentos, grato pela vossa participação neste projecto e pela vossa presença nesta cerimónia. Espero que, onde quer que viveis, nesta cidade ou em Moçambique, em África ou em qualquer parte do mundo, que o vosso caminho vos conduza novamente à beleza do Polana Serena.