Por Sua Alteza o Aga Khan, Bishkek · 15 setembro 2025 · 6 Min
AKDN/Akbar Hakim
Bismi’l-lahi’r-rahmani’r-rahim
Vossa Excelência Adylbek Kasymaliev, Presidente do Conselho de Ministros,
Diretor da Administração Presidencial,
Excelências,
Distintos Convidados,
É com grande prazer que dou as boas-vindas a todos a esta cerimónia de entrega de prémios, neste belíssimo local.
Já passaram quase 50 anos desde que o nosso falecido pai criou o Prémio Aga Khan para a Arquitetura. Digo “nosso pai” porque os meus irmãos estão presentes, não por estar a falar de mim num “nós” da realeza. Nas décadas que se seguiram, esse Prémio reconheceu dezenas de criadores e edifícios inovadores, pelo mundo inteiro. Influenciou o discurso internacional, promovendo novas ideias e soluções, e criando mais projetos que são hoje concebidos, desenhados e construídos com as pessoas como prioridade.
As cerimónias do Prémio eram sempre muito aguardadas pelo nosso pai. E quero agradecer a todas as pessoas que trabalharam com ele, ao longo destas muitas décadas, para tornar este Prémio uma parte tão vital do seu legado.
Esta ocasião marca também os 25 anos de parceria entre a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e a República do Quirguistão. Têm sido notáveis os recentes crescimento e desenvolvimento do Quirguistão. Sob a liderança do Presidente Zhaparov, o Governo deu grandes passos para traduzir o sucesso económico duramente conquistado numa melhor qualidade de vida para os cidadãos, através do alargamento do acesso aos serviços públicos e o apoio dedicado às famílias vulneráveis.
O Governo alargou os espaços verdes, criou novos ambientes de aprendizagem para fomentar a criatividade e a inovação, e construiu habitações dignas para os funcionários públicos, especialmente para aqueles que trabalham em zonas remotas. Todos estes pontos são investimentos significativos, não só em infraestruturas físicas, mas também no bem-estar humano.
Devemos todos prestar homenagem ao Presidente Zhaparov pela sua liderança na promoção da Agenda Internacional da Montanha, e por liderar a campanha nacional Jashyl Muras (Património Verde), uma iniciativa ambiciosa para proteger as preciosas paisagens naturais do Quirguistão através da conservação, da reflorestação e do desenvolvimento sustentável. Os ecossistemas do Quirguistão são vitais para toda a região da Ásia Central, o que torna estes esforços ainda mais importantes.
O Quirguistão tem um rico património cultural. As tradições musicais do país, passadas de geração em geração, contribuíram para o legado musical do mundo. Bishkek é casa de um dos mais prestigiados centros dedicados à educação musical, a Escola Abdraev, que mantém laços antigos de colaboração com o Programa Aga Khan para a Música.
Fico feliz por estarmos a trabalhar em parceria com o Governo para construir um novo Centro de Música nos terrenos da Escola Abdraev. Esperamos que o novo centro, equipado com instalações de última geração para a educação musical e a interpretação, bem como um auditório, se torne um símbolo de excelência e apoie o objetivo do Governo de usar a arquitetura para celebrar e preservar o património do país.
O nosso trabalho num novo centro de música inclui-se na longa história dos nossos investimentos neste país. Durante mais de duas décadas, as agências da AKDN criaram e operaram instituições nacionais fortes, como o Banco de Crédito ao Investimento do Quirguistão, para apoiar as prioridades de desenvolvimento nacional. Só no ano passado, a Escola Aga Khan em Osh, a Universidade da Ásia Central e a Fundação Aga Khan serviram mais de 100 000 estudantes por todo este país.
Através da nossa colaboração com o Governo e com os nossos parceiros, - e é um prazer ver muitos deles aqui presentes - vamos continuar a ajudar os indivíduos a desenvolver capacidades e a criar oportunidades para eles mesmos, para as suas comunidades e para este belíssimo país.
Uma das razões para o nosso pai ser tão apaixonado pela arquitetura era o poder que tem de melhorar as vidas dos pobres e dos desfavorecidos, e é por isso que este Prémio dá tanto ênfase aos edifícios que abordam as necessidades sociais e ambientais. Para citar o meu pai: “Acredito profundamente que a arquitetura não é apenas sobre construir. É uma forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas. No seu melhor, deve espelhar a pluralidade das tradições culturais e as diversas necessidades das comunidades… Cada geração deve deixar aos seus sucessores um ambiente físico e social saudável e sustentável.”
Os edifícios têm poder. Podem aumentar os padrões de vida, inspirar reverência e espanto, e resolver - ou criar - problemas para as gerações seguintes. Neste mais recente ciclo do Prémio Aga Khan para a Arquitetura, por exemplo, temos projetos que arrefecem as altas temperaturas no Irão, que atenuam o problema dos deslocados pelo clima no Bangladesh, e que promovem a inclusão e o pluralismo no Egito.
Hoje, mais do que nunca, com o vasto leque de materiais e técnicas que os humanos criaram, a grande arquitetura tem o poder de responder diretamente aos mais prementes desafios de desenvolvimento, e de criar o mundo inclusivo, seguro e digno que queremos para todos.
Uma das maiores ameaças que enfrentamos, ao nível global, é a ameaça das alterações climáticas. Sabemos que, agora, todas as atividades humanas deverão adaptar-se a estas alterações. Neste ponto, a arquitetura oferece-nos muita esperança. Os humanos sempre desenharam os seus edifícios em resposta ao clima. Atualmente, com o clima mais volátil do que nunca, os arquitetos têm uma grande responsabilidade, e uma oportunidade, de usar a sua criatividade para desenhar edifícios que atenuem essa volatilidade e nos protejam a todos - e especialmente os mais vulneráveis - dos riscos climáticos. Essa qualidade - a flexibilidade perante o inesperado - esteve no centro das preocupações do Júri, neste ciclo do Prémio.
As alterações climáticas estão longe de ser o único desafio de desenvolvimento que a arquitetura tem de enfrentar. Como já referi, contamos com o nosso ambiente construído para melhorar a qualidade de vida de todos e para resolver questões de justiça social e ambiental. Não é exagero dizer que a acessibilidade da nossa habitação, a facilidade de acesso a espaços verdes, a educação, a saúde e o património cultural dependem da criatividade dos nossos arquitetos e da sabedoria dos nossos urbanistas. Os projetos criativos que centram estas prioridades podem alargar o acesso, tanto de cima para baixo - dando aos governos mais e melhores opções para adjudicar - como de baixo para cima - dando às pessoas opções menos dispendiosas e melhores para construírem elas próprias. Não existe uma receita única para a excelência, porque cada país tem os seus próprios desafios únicos, mas as qualidades que este Prémio procura tentarão sempre responder a esses desafios de alguma forma.
Na era atual de confiança reduzida, o processo de avaliação do Prémio Aga Khan para a Arquitetura continua a ser um oásis de rigor. O processo de avaliação é intransigente. Baseia-se em extensa documentação, entrevistas e visitas aos locais para garantir que nenhum pormenor é descurado. O Prémio examina cada projeto meticulosamente, procurando reconhecer aqueles que promovem valores de equidade, participação, sustentabilidade ambiental e boa governação, ao mesmo tempo que transcendem os constrangimentos a que estão sujeitos - sejam eles económicos, sociais, ecológicos, políticos ou tecnológicos. Alguns dos projetos só revelarão toda a extensão do seu impacto nos próximos anos, mas estamos confiantes de que todos eles o farão.
Por fim, gostaria de agradecer a todos por fazerem parte desta cerimónia, e por homenagearem estes justos vencedores, que nos mostraram, mais uma vez, o poder que a arquitetura tem de responder aos desafios de desenvolvimento atuais e, ao fazê-lo, de nos elevar a todos. Vamos continuar a garantir que o que construímos reflete não apenas a nossa criatividade, mas também a nossa compaixão, a nossa responsabilidade e a nossa visão partilhada de um mundo justo e sustentável.
Obrigado.