Por Rui Correia, Branzelo, Portugal · 7 setembro 2025 · 3 Min
AKDN / José Nero
Hoje celebramos, em Branzelo, não apenas a conclusão de uma obra, mas a recuperação de um pedaço da nossa história e da nossa identidade coletiva: a Capela de Nossa Senhora da Aflição e a Casa do Fogo.
É com um profundo sentimento de responsabilidade, e também de orgulho, que aqui estou, em nome de todos os técnicos que contribuíram para este projeto, para partilhar as intervenções realizadas na Capela da Nossa Senhora da Aflição e na Casa do Fogo, em Branzelo, Gondomar.
Estes dois edifícios são muito mais do que apenas pedra e madeira. São as testemunhas vivas da História, da fé e da memória coletiva de uma comunidade.
Construída em 1884, a Capela integra o património religioso do Douro. A sua simplicidade arquitetónica e a integração harmoniosa na paisagem dão-lhe um caráter singular. Na década de 1960, foi alvo de uma remodelação, após o colapso de uma das paredes. O incêndio de 2024 danificou severamente a cobertura, o coro alto, pavimentos, portas, janelas e rebocos. Tornou-se urgente intervir, antes que este património se perdesse.
Todo o processo seguiu princípios internacionais de conservação: autenticidade, mínima intervenção, reversibilidade, compatibilidade de materiais e, acima de tudo, valorização patrimonial, respeitando as funções simbólica, religiosa e comunitária da Capela.
O teto foi reconstruído com uma nova estrutura em madeira, uma membrana respirável e azulejos compatíveis com a tipologia regional. Dois aspersores discretos reforçam a prevenção de incêndios e a segurança do edifício. Os soalhos foram refeitos, incorporando um sistema de ventilação cruzada sob as tábuas, permitindo uma ventilação constante das paredes e do chão, garantindo a durabilidade e o conforto ambiental. Foram construídas novas portas e janelas em madeira, bem como o coro alto e o soalho, usando técnicas artesanais.
Uma nova parede de xisto, com 70 centímetros de espessura e idêntica às originais, reforça a coerência estrutural do conjunto. Nas paredes exteriores e nas escadarias, as juntas de pedra foram cuidadosamente consolidadas. Para um maior conforto ambiental, foi montada uma solução de ventilação constante através de vidros duplos, promovendo a renovação de ar e evitando a condensação. Elementos arquitetónicos e decorativos, como os trabalhos em granito e em metal, foram alvo de uma limpeza, consolidação e tratamento com meticulosa atenção. Sempre que possível, os trabalhos foram feitos de forma artesanal, preservando os elementos originais.
O resultado é claro:
Esta obra não foi apenas uma resposta a uma calamidade. Esta obra foi um gesto de preservação e de união, um gesto que equilibrou o rigor técnico, o respeito pela autenticidade e pelo valor simbólico. É importante sublinhar que este trabalho extraordinário foi concretizado em apenas três meses graças à parceria entre Ismaili Imamat / AKTC, Câmara Municipal de Gondomar, União de Freguesias de Melres e Medas, empresa Construções Belmiro Gomes e Filhos e as proprietárias, numa união exemplar entre a comunidade e entidades públicas e privadas.
Quero dar um agradecimento especial a todos os trabalhadores que nunca se recusaram a nada, que realizaram as suas tarefas com grande responsabilidade e habilidade, tornando possível este momento. Obrigado.
Hoje, devolvemos à comunidade um espaço de memória, devoção e união, que continuará vivo para as gerações futuras. No entanto, a obra não termina hoje: na segunda fase, que terá início já amanhã, iremos construir as instalações sanitárias, proceder à colocação do mobiliário e criar uma área verde aqui à frente, que tornará este espaço ainda mais acolhedor e integrado na paisagem.
Muito obrigado