Por José Paiva, Branzelo, Portugal · 7 setembro 2025 · 4 Min
AKDN / José Nero
Passado quase 1 ano dos trágicos incêndios que fustigaram a nossa terra e destruíram a capela de nossa senhora da aflição, não posso deixar de rever a fita do tempo, recordando a madrugada do dia 18 de setembro, onde deste mesmo local só se viam labaredas.
Branzelo e Melres eram autênticos infernos.
Nos dias seguintes e quando se contabilizavam os prejuízos, a questão era, como recuperar a capela?
Mas rapidamente se vislumbrou uma luz ao fundo do túnel e no dia 25 de outubro, por volta das 9h30, liga-me o sr. Presidente da câmara, a pedir-me uma breve resenha histórica da capela, porque por volta do meio dia tinha uma reunião e a sua recuperação estaria em cima da mesa.
No dia 13 de novembro, tivemos a visita do sr. Representante Diplomático do Ismaili Imamat, Comendador Nazim Ahmad e duma delegação da Fundação Aga Khan, Presidente e Vice-Presidente da CMG, Sr. Presidente da CCDRN, Dr. António Cunha, da D. Elvira Duarte e eu próprio.
E esse dia, não tenho dúvidas foi o lançamento da 1º pedra, da reconstrução da Capela de Nossa Senhora da Aflição.
Depois, muitas reuniões foram feitas, muitas horas a debater estratégias, acertar pormenores, para que tudo fosse concretizado em tempo útil, e para que, hoje a festa de Nossa Senhora da Aflição fosse realizada, com uma Capela completamente renovada e reconstruída e um espaço exterior limpo e pronto a ser requalificado.
O que tenho para dizer é muito simples, em nome da nossa comunidade muito…muito…muito obrigado a todos os intervenientes neste processo, e manifestar um profundo sentimento de gratidão e reconhecimento à Fundação Aga Khan e ao senhor embaixador, Comendador Nazim Ahmad, o seu papel foi absolutamente determinante para o sucesso desta obra, o seu empenhamento pessoal, foi para nós, contagiante.
Há um pormenor que gostaria de relembrar, aquando da primeira visita aqui, a este local, no dia 13 de novembro do ano passado, e na conversa que fomos tendo alguém disse, que se o incêndio fosse 15 dias antes, a festa não se teria realizado e o Sr. Comendador Nazim, perguntou de forma muito pronta, em que dia era a festa.
Quando dissemos que se realizava no 1º domingo de setembro, ele disse de forma perentória e firme, então a Capela tem que estar reconstruída até ao dia da festa.
E como podem ver, a Capela está nova.
Muita gente me tem perguntado, o que leva uma instituição, com uma religião diferente da nossa, a recuperar um templo da igreja católica, pois bem, o que eu digo é que em todas as religiões há gente boa, que gosta de fazer o bem e que se predispõe a ajudar, sem pensar ou querer saber, quem está do outro lado.
Aliás, em conversas com o Sr. Comendador Nazim, ele tem me transmitido os trabalhos que têm sido desenvolvidos com a Igreja Católica, em Portugal, há décadas.
Ter uma instituição religiosa do mundo islâmico, liderara por Sua Alteza Aga Khan e que tem agências de desenvolvimento no apoio a pessoas e comunidades em todo o mundo, vem-nos recordar da origem comum das religiões abraâmicas e, em última instância da nossa humanidade.
E esta oliveira que ali está, que resistiu ao fogo, é sem duvida alguma o verdadeiro símbolo da paz e tenho a certeza que este local de culto, dedicado a Nossa Senhora da Aflição, será doravante também um local, de diálogo entre diferentes religiões e culturas, com um enquadramento paisagístico deslumbrante, que apela á meditação, ao recolhimento e ao reencontro de cada um de nós, com a verdadeira essência do homem, a paz, a harmonia e a sã convivência entre todos, sejam quais forem as suas diferenças ou convicções.
Que este exemplo, que aqui vivemos hoje, seja uma luz que ilumine a humanidade e os seus líderes políticos.
Quero deixar também, um agradecimento especial aos que estiveram no terreno e que foram os executores desta empreitada, á Dra. Susana Ramos, á Dra. Filomena Santos, ao Arq. Rui Correia, á Engª Helena, ao Jorge e ao Tozé e colaboradores da empresa Belmiro Cunha Gomes & Filhos, envolvidos nos trabalhos da Capela , vocês foram excecionais, tenho a certeza que esta foi uma obra que vos encheu de orgulho, à Casa de Fânzeres – Arte Sacra, empresa que construiu o altar mor e restantes elementos religiosos, e a todos que, de forma geral, deram o seu melhor em prol desta obra.
Muito obrigado a todos.
Para terminar, uma imagem que guardarei para sempre e é bem elucidativa da emoção e do sentimento, que envolveram este processo.
No dia 13 de novembro, no momento das despedidas com o sr. Comendador Nazim a confortar a D. Elvira, dizendo para estar tranquila, que tudo ia correr bem, momento esse, que foi selado com um forte abraço e com a D. Elvira lavrada em lágrimas.
Foi um momento marcante e D. Elvira, como pudemos ver, aquelas palavras do sr. Comendador foram uma profecia.
Correu tudo muito bem!
Disse.