Por Príncipe Amyn Aga Khan, Omã · 29 outubro 2022 · 6 Min
AKDN / Zanir Munir
Bismallah Hir Rahman Nir Rahim,
Sua Alteza Sayyid Kamil bin Fahad Al Said,
Suas Altezas, Excelências, Ilustres Convidados, Senhoras e Senhores, Amigos: as-salamu alaykum.
O nosso encontro aqui na magnífica Ópera Real da Casa das Artes Musicais é profundamente simbólico, pois não celebra apenas a criatividade artística e académica inspiradoras, mas também a resiliência da música e dos músicos em tempos difíceis. É bastante apropriado estarmos a assinalar esta ocasião especial no Sultanato de Omã, um país onde o papel central das artes é sagrado e a confluência das artes cénicas das culturas orientais e ocidentais está consagrado neste notável complexo arquitetónico onde estamos hoje reunidos.
Aqueles aqui presentes esta noite sabem muito bem que os músicos e os seus colegas artistas de teatro e dança foram profundamente afetados de forma particular pela pandemia global. O facto de as oportunidades de atuarem ao vivo terem desaparecido literalmente da noite para o dia levou a mais do que apenas uma perda nos meios de subsistência. Significou também a perda de uma fonte vital de inspiração, a inspiração que os artistas sentem quando se apresentam perante o público, podendo sentir as emoções e os pensamentos que a sua música provoca.
Os grandes filósofos árabes medievais, muitos dos quais eram também teóricos da música e inclusive músicos talentosos, tinham uma profunda compreensão da capacidade que o som tinha de afetar a psique e as emoções humanas. Nós somos os herdeiros desse conhecimento, e estamos a reafirmá-lo aqui esta noite através desta reunião em que experienciamos coletivamente o poder da música ao vivo, maravilhosamente produzida e moldada à volta das nossas emoções, dos nossos sonhos.
Nos tempos mais difíceis da pandemia, falei com o meu irmão, Sua Alteza o Aga Khan, sobre se não seria prudente realizar esta cerimónia dos Prémios para a Música num formato virtual, como estava a suceder na altura com tantos outros eventos a nível global. Uma cerimónia virtual teria sido mais simples e económica de organizar e teria evitado riscos de saúde pública associados à pandemia, e teria aligeirado (provavelmente de forma insignificante) a pegada de carbono criada pela nossa presença física aqui em Mascate. As vantagens de uma cerimónia virtual, por mais significativas que fossem, tiveram de ser ponderadas em contraste com aquilo que se perderia. E no final, voltamos à ideia central subjacente à criação dos Prémios para a Música desde o início: apoiar o potencial transformador das artes cénicas quando estas são experienciadas de forma direta, em condições ideais, produzidas por mestres na sua área, para que compreendamos que as emoções e os sonhos que partilhamos através da música servem para nos unir, independentemente das nossas origens. Espero que concordem comigo que as atuações desta noite irão justificar a nossa decisão de termos insistido num evento ao vivo.
Contudo, o impacto dos Prémios para a Música vai para além das 500 pessoas aqui reunidas esta noite, e para além daqueles que estão agora a assistir a este evento ou que o irão fazer mais tarde através da televisão e da internet. O verdadeiro impacto dos Prémios para a Música será avaliado pelo sucesso dos vencedores nos seus esforços de utilizar o seu talento e conhecimento musicais para contribuir para o bem-estar das respetivas sociedades e da humanidade em geral. Na verdade, o processo de seleção do júri dos Prémios para Música assenta sobre a convicção de que o dom do talento artístico confere a responsabilidade a quem o recebe de partilhar a sua sorte com os outros, de nos unir apesar das nossas muitas diferenças aparentes.
Todos os laureados dos prémios deste ano demonstraram um forte compromisso com várias formas de serviço social, atuando na linha da frente como professores e mentores. Ao longo da história, muitos professores de música famosos ensinaram através do exemplo, e em muitas tradições musicais que floresceram em civilizações muçulmanas, assim como em outras, a aprendizagem de música a partir de modelos tradicionais transmitidos por um professor conceituado tornou-se uma prática canónica, chamemos-lhe masterclass ou, como em urdu e persa, ustad-shagird. Mas a capacidade de ensinar os alunos a darem vida a um modelo tradicional, mostrando ao mesmo tempo disciplina e paixão, é um dom especial. Esperamos que, com o nosso apoio, esta capacidade continue a ser cultivada pelos laureados com os Prémios Aga Khan para a Música no seu trabalho contínuo enquanto educadores. Além disso, ao educarmos os jovens nas suas próprias tradições musicais e ao lhes darmos as ferramentas para aprofundarem essas tradições no sentido de novos caminhos cosmopolitas, estamos a ajudar a preparar uma nova geração de líderes culturais e compositores que irão construir pontes e ligações entre diferentes culturas. Os laureados dos Prémios para a Música são mensageiros deste trabalho coletivo, levando-o a comunidades artísticas e comunidades de ouvintes em todo o mundo. Embora não se possa dizer que haja um tipo de música que seja uma linguagem universal, o desejo de fazer música e de ter música nas nossas vidas é algo de universal. As tradições musicais foram evoluindo, seja onde for, à medida que as pessoas foram viajando de uma área geográfica e de uma cultura para outra e foram absorvendo partes dessas novas culturas que iam descobrindo, ao mesmo tempo que provocavam uma evolução nos estilos e expressões musicais dos países que visitavam. Esta evolução através do contacto intercultural tem sido a base de quase toda a criação musical.
Há dois anos e meio, quando tive o privilégio de discursar na cerimónia inaugural dos Prémios para a Música em Lisboa, Portugal, afirmei que era esperança e a ambição de que os Prémios Aga Khan para a Música funcionassem como um catalisador para muitos projetos futuros que se baseassem na rica tapeçaria do património musical muçulmano, ao mesmo tempo que ultrapassavam as fronteiras do tempo, lugar e cultura, assimilando as tradições e características de outros patrimónios, dando origem a um som pluralista que pudesse ser manifestamente global. O ilustre conjunto de laureados deste ano oferece um forte indício de que, apesar dos obstáculos dos últimos anos, continuamos a fazer progressos constantes. Estes laureados demonstram igualmente que não existe nenhuma contradição inerente entre aquilo a que chamei “som pluralista global” e a celebração de identidades culturais locais. Pelo contrário, estão a reforçar-se mutuamente. A exposição a diferentes formas de fazer música e pensar sobre música representa uma forma de engrandecimento. Sermos desafiados a compor ou improvisar música que incorpore novas linguagens musicais e diferentes tipos de instrumentos e técnicas de performance requer que os músicos sejam criativamente ágeis e flexíveis e que estejam dispostos a encontrar novas formas de expressar as nossas emoções partilhadas e os nossos sonhos e experiências fundamentalmente semelhantes. O importante é que os jovens músicos se tornem músicos talentosos, quaisquer que sejam os seus instrumentos e cultura, mas também que prossiga a criação de nova música.
Estes prémios para a música abrangem, essencialmente, três categorias, três capítulos: Performances; Investigação e educação musical; e Criação.
Em meu nome e do meu irmão, felicito todos os galardoados com os Prémios Aga Khan para a Música, inclusive o segundo grupo que atuará aqui amanhã à noite. Também gostaria de agradecer publicamente a todos os membros do nosso Comité Diretivo e do Grande Júri dos Prémios. O seu entusiasmo e forma abnegada como contribuíram com o seu tempo e experiência foi o que tornou possível este ciclo de Prémios para a Música.
Por fim, desejo estender a minha profunda gratidão aos nossos gentis anfitriões, e os meus agradecimentos a todos os nossos ilustres convidados por nos terem honrando com a sua presença aqui esta noite.
Muito obrigado.