Por Príncipe Rahim Aga Khan, Dubai · 13 fevereiro 2023 · 5 Min
Bismillah-ir-Rahman-ir-Rahim
Suas Altezas,
Suas Excelências,
Ilustres convidados,
Senhoras e senhores,
As-Salaam-Alaikum.
Gostaria de começar por expressar a minha gratidão a Sua Alteza Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, Vice-Presidente e Primeiro-Ministro dos Emirados Árabes Unidos e Governante do Dubai, e a Sua Excelência Omar Sultan Al Olama, Diretor-Geral do Gabinete do Primeiro-Ministro, Ministro de Estado para a Inteligência Artificial, Economia Digital e Aplicação do Trabalho Remoto dos Emirados Árabes Unidos, e Diretor Executivo da Organização da Cimeira Mundial de Governos, pelo convite para discursar aqui hoje.
Desde a sua criação há uma década, esta Cimeira tem permitido a troca de ideias com vista a progredir e encontrar soluções para uma variedade de desafios globais complexos e profundos. Os convidados aqui presentes têm o poder de influenciar eventos, realizar grandes feitos e moldar o futuro, e é um privilégio juntar-me a eles nesta cimeira.
Estamos aqui todos para estabelecer um diálogo focado e contínuo acerca das complexidades e compromissos desse mesmo progresso, porque somente através do diálogo podemos garantir uma tomada de decisão bem informada e inteligente com vista à melhoria de todas as sociedades.
Ao olhar através desta lente, na qualidade de Presidente do Comité para o Ambiente e o Clima da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, gostaria de falar sobre a urbanização no mundo em desenvolvimento no contexto das alterações climáticas.
As populações estão a deslocar-se como nunca se viu antes. Estamos a tornar-nos rapidamente num mundo urbano. E a escala e o ritmo desta mudança são arrebatadores. Em meados deste século, estima-se que oito em cada dez pessoas vivam em cidades, com grande parte desta urbanização a ter lugar no mundo em desenvolvimento.
A forma como planeamos, desenhamos e gerimos as cidades no mundo em desenvolvimento será, portanto, de vital importância, tanto para o nosso frágil planeta como para a humanidade.
Nesta altura de urbanização rápida – e muitas vezes não planeada –, gostaria de falar de três áreas particularmente desafiantes para o nosso tempo e para o futuro: as infraestruturas; a saúde; e as emissões.
Em primeiro lugar, as infraestruturas. À medida que as cidades se vão expandido de forma rápida, cresce o risco de que as suas infraestruturas comecem a ficar desajustadas face ao aumento das necessidades das suas populações em crescimento e que a expansão não aconteça de uma forma ambientalmente sustentável.
Ao olharmos para o futuro do urbanismo, temos de pôr as infraestruturas ecológicas no centro do processo de design e desenvolvimento, se quisermos ter alguma hipótese de mitigar as consequências do aquecimento global. Isto implica projetar edifícios que minimizem os ganhos ou as perdas de calor, usando materiais de construção ecológicos e painéis solares nos telhados em todas as construções futuras, dando prioridade a caminhos pedonais e ciclovias e garantindo a existência de transportes públicos seguros, rápidos e fiáveis que sejam alimentados por energia limpa, entre outros imperativos. Essencialmente, a colocação da sustentabilidade no centro das nossas infraestruturas urbanas tem de ser um requisito fundamental à medida que avançamos.
Em segundo lugar, a saúde. Ao longo dos últimos séculos, a saúde dos moradores nas cidades tem vindo a beneficiar cada vez mais de um melhor acesso à educação e aos cuidados de saúde, uma melhoria nas condições de vida e em intervenções específicas de saúde pública.
Mas hoje em dia, esse benefício é menos aparente, com centenas de milhões de habitantes de zonas urbanas a não terem saneamento adequado nem acesso a água potável, ameaçados pelo stress térmico, pela poluição do ar ou a sofrerem os efeitos de doenças transmitidas pelo ar pela água, tudo isto exacerbado pelas alterações climáticas.
A assunção destes problemas e a criação de políticas e respostas públicas para resolvê-los irá tornar-se cada vez mais importante.
Por fim, as emissões. Embora as nossas cidades ocupem apenas três por cento da área da Terra, elas são responsáveis por 80% do consumo energético e de pelo menos 70% de todas as emissões de gases de efeito de estufa.
Dado que as cidades irão desempenhar um papel muito importante nas próximas décadas, elas precisam não só de se anteciparem e de se adaptarem às alterações climáticas, mas também de contribuir para a sua mitigação.
Temos de reduzir de forma rápida e intencional as emissões de gases de efeito de estufa dos centros urbanos, assim como usar todas as soluções disponíveis para reduzir os gases de efeito de estufa já emitidos… e aqui, a investigação e a tecnologia prometem contribuir para essa redução se forem apoiadas por governos, empresas e pela sociedade civil a trabalharem em conjunto de modo inspirado e esclarecido.
Então, como podemos garantir que no futuro o design global das cidades incorpore a resiliência e uma base sustentável?
A nível ambiental, temos de garantir que a energia é produzida e que os recursos naturais e os solos são utilizados de forma sustentável.
E, ao nível da gestão, é fundamental uma liderança forte e uma gestão competente. Precisamos de abordagens integradas às questões relacionadas com o urbanismo e ao diálogo de modo a fomentar uma boa tomada de decisão.
Tanto a nível ambiental como da gestão o poder das parcerias será essencial. O governo, as empresas e a sociedade civil têm de trabalhar em conjunto para desbloquear o melhor futuro possível para as nossas cidades.
Na Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, temos experienciado em primeira mão o valor de uma parceria bem-sucedida entre governos, empresas e sociedade civil.
Há várias décadas que a AKDN se dedica à preservação, restauro e desenvolvimento do ambiente construído: edifícios históricos e locais públicos de significado prático e cultural.
O nosso trabalho está sempre alicerçado na ética e tradição islâmica. O Alcorão ensina-nos que a Humanidade, enquanto a mais nobre criação de Deus, está incumbida de tratar de tudo o que existe na Terra, e que cada geração deve deixar aos seus sucessores um ambiente social e físico íntegro e saudável.
A gestão do ambiente, a preocupação com o mundo natural, a partilha de recursos, o reconhecimento da beleza como uma bênção divina e uma ética ambiental são os princípios que ajudaram a nortear o planeamento das primeiras cidades muçulmanas.
Deste modo, nos nossos esforços atuais, o objetivo não tem passado apenas por honrar os marcos culturais passados, mas também por criar uma base ambientalmente sustentável para o progresso económico e social.
Um exemplo deste trabalho é o projeto do Parque Al-Azhar no Cairo. Foi criado no local de uma lixeira e desenvolvido para oferecer um novo espaço capaz de dar uma grande contribuição positiva à qualidade de vida da população do Cairo.
O Parque foi inaugurado em 2005 como parte de uma iniciativa mais alargada de reabilitação urbana, que incluiu serviços de educação e saúde, o restauro de monumentos, a modernização de infraestruturas, atividades de formação profissional e de microcrédito naquela área.
Como consequência do projeto, descobrimos que os rendimentos das famílias aumentaram mais rápido do que nas outras áreas do Cairo Antigo em um terço, as taxas de alfabetização aumentaram 25% e o Parque já foi aproveitado por mais de 20 milhões de visitantes até ao momento.
O Parque, com uma área de cerca de 33 hectares numa metrópole densamente povoada, oferece um lugar onde os cidadãos podem apreciar uma beleza serena, encontrar um abrigo do calor do verão e respirar ar puro no meio de uma vegetação que sequestra 750 toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano.
É um brilhante exemplo daquilo que uma parceria virada para a sustentabilidade pode criar para as populações urbanas. Temos a esperança de poder partilhar a nossa experiência com mais parceiros no futuro para ajudar a criar ambientes onde as comunidades urbanas possam viver para prosperar em harmonia com o mundo natural.
Senhoras e senhores, este fórum, a Cimeira Mundial de Governos, é uma oportunidade fantástica para elevar as nossas ambições comuns, partilhar grandes ideias e inspirar medidas positivas em matéria de design urbano a nível global, com vista a construir um futuro melhor, mais harmonioso e mais ambientalmente sustentável para a Humanidade e para o nosso planeta.
É uma verdadeira honra fazer parte da elaboração deste próximo capítulo.
Obrigado.