Por Sua Alteza o falecido Aga Khan IV, Edmonton, Canada · 16 outubro 2018 · 5 Min
Bismillah-ir-Rahaman-ir-Rahim
Sua Excelência Lois Mitchell,Honorável Rachel Notley,
Honoráveis Ministros,
Sua Eminência,
Reitor Stollery,
Presidente Turpin,
Ilustres Convidados,
É sempre um grande prazer saudar velhos amigos e receber novos amigos numa celebração como esta. Mas a inauguração de hoje é para mim uma ocasião particularmente festiva.
Por um lado, as velhas amizades que hoje aqui renovamos são especialmente relevantes. Recordamos, claro, o acolhimento prestado pelo estado de Alberta aos membros da comunidade ismaili que se estabeleceram aqui há quase meio século, muitas vezes em circunstâncias complicadas. E esses laços de boas-vindas têm sido continuamente renovados ao longo dos anos, especialmente através das nossas gratificantes parcerias com a Universidade de Alberta.
Um dos presentes mais especiais que os velhos amigos nos oferecem é apresentar-nos novos amigos maravilhosos, e isso também aconteceu aqui. O projeto que celebramos hoje - a inauguração do Jardim Aga Khan - é um exemplo particularmente feliz.
Julgo que todos tiveram o prazer - na vossa vida pessoal ou profissional - de verem uma história fascinante desenvolver-se de forma animada do princípio ao fim. Lembramos o entusiasmo de um novo começo - assim como o profundo sentimento de satisfação e agradecimento ao ver o planeamento ser cumprido - quando a esperança é concretizada e a visão é alcançada.
Bem, é exatamente assim que me sinto hoje. Tive a sorte de ter feito parte da conceção deste projeto - e sinto-me afortunado por estar aqui hoje para ajudar a assinalar a sua concretização.
Recordo-me bem das minhas visitas à Universidade de Alberta durante o meu ano do Jubileu de Ouro - em 2008, e novamente para as cerimónias de formatura em 2009. Foi nessa altura que discutimos este sonho de criarmos aqui, em conjunto, um novo Jardim Islâmico. Fiz a minha primeira visita ao local proposto para o Jardim naquela altura, imaginando, mesmo à época, como é que este sonho se poderia tornar realidade na prática.
Para muitos, parecia um sonho improvável. Afinal, a grande tradição dos Jardins Islâmicos tem as suas raízes em tempos e lugares muito diferentes. O símbolo do Jardim enquanto um símbolo espiritual remonta ao próprio Alcorão - onde o ideal do Jardim é mencionado muitas vezes. Ao longo de muitos séculos, a cultura islâmica continuou a ver o Jardim como um lugar muito especial, onde o Humano encontra mais uma prova do Divino.
O desenvolvimento do Jardim como um símbolo dos ideais islâmicos floresceu de forma magnífica há cerca de 500 a 600 anos - e isso aconteceu, claro, nos climas mais quentes da Ásia do Sul. E, no entanto, lá estávamos nós em Edmonton há uma década, no início do século XXI, a propor expandir esta encantadora tradição oriental e meridional, ao ambiente natural único do norte e do oeste do Canadá. Este novo jardim então proposto, para ser preciso, seria o Jardim Islâmico mais a Norte jamais criado.
Nos últimos nove anos, pude ver o sonho a tornar-se realidade - depois de termos chegado a um acordo acerca da configuração do local, criado um Comité Diretivo, escolhido uma firma de arquitetura e revisto os planos de desenvolvimento. E depois, com o planeamento concluído, o processo de construção demorou apenas 18 meses - tendo a obra sido terminada “dentro do prazo e do orçamento”, como os planificadores gostam de destacar!
Ao olhar para este jardim hoje, o meu primeiro pensamento - acima de tudo - vai para as pessoas que o tornaram possível - a sua dedicação, o seu talento e a sua extraordinária energia. Quero que todos eles saibam que, ao celebrarmos hoje este novo Jardim, também estamos a celebrá-los a eles. A sua dádiva será altamente valorizada pelas gerações vindouras, que também se devem sentir privilegiadas por experienciar a espiritualidade e a harmonia de múltiplas formas de vida.
Nestes incluem-se trabalhadores da construção civil e jardineiros, planificadores e administradores, artistas e académicos, arquitetos e desenhistas - incluindo a empresa de arquitetura paisagística Nelson Byrd Woltz. Incluem também membros dedicados dos ismailis e de outras comunidades muçulmanas em Alberta - e de outras partes do Canadá, a incrível família da Universidade de Alberta, funcionários governamentais a todos os níveis, e aqueles que trabalham no Fundo Aga Khan para a Cultura e na Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.
Na essência do vosso empenho esteve, obviamente, o poder inspirador do próprio Jardim Islâmico. Dado que uma parte central da tradição do Jardim passa pela soberana evocação da gestão humana, é nossa responsabilidade honrar, proteger e partilhar os dons do mundo natural.
Os jardins inseridos neste contexto podem ser vistos não como imitações da Natureza, mas como interpretações da natureza por parte da humanidade, com as suas estruturas geométricas a oferecerem um enquadramento humano no qual podemos experienciar - neste caso - as magníficas variações da paisagem de Alberta.
O Jardim de tradição islâmica é também um lugar onde a circulação de águas refrescantes nos faz pensar numa bênção Divina. É um lugar de meditação e renovação silenciosa. Mas também gostaria de destacar que o Jardim, ao longo da história, tem sido visto como um espaço social - um lugar de aprendizagem, partilha, romance, diplomacia, e reflexão sobre o destino da raça humana. E ao partilharmos a experiência do Jardim uns com os outros, sentimos uma ligação com aqueles que caminharam por jardins semelhantes no passado.
Vou mencionar mais um aspeto particular acerca do Jardim que inauguramos hoje. Este simboliza não só a fusão criativa entre o Natural e o Humano - mas também a beleza da diversificada cooperação intercultural.
Uma das grandes questões que a humanidade enfrenta hoje é saber como podemos honrar aquilo que nos distingue nas nossas próprias identidades - e, ao mesmo tempo, acolher uma diversidade de identidades enquanto elementos positivos nas nossas vidas.
Esta cidade e este país estão entre os líderes mundiais na apresentação de respostas positivas a esta velha questão. O projeto que inauguramos hoje é um belo prolongamento dessa tradição canadiana.
No Canadá e em muitos outros lugares, o Fundo Aga Khan para a Cultura assumiu um forte compromisso nos últimos anos com a criação e renovação de importantes espaços verdes. Podemos olhar para trás e encontrar dez casos de sucesso recentes em lugares que vão do Cairo a Zanzibar, de Toronto a Cabul, de Dushanbe no Tajiquistão a Bamako no Mali. Só em 2018, ajudei a inaugurar três desses projetos de Jardim - em Londres, em Deli e agora aqui em Alberta.
Mas a história não acaba aqui. Na verdade, a história dos Jardins Islâmicos do Canadá em si ainda não está concluída. Os nossos planos de futuro passam, na verdade, pelo desenvolvimento de um novo Parque a algumas centenas de quilómetros a sudoeste daqui, em Burnaby, na Colúmbia Britânica.
Vai, com certeza, superar Edmonton como o mais ocidental dos jardins islâmicos. Mas podemos estar seguros, o Jardim de Edmonton continuará por muito tempo a ser o jardim mais a Norte!
Já falei sobre o passado hoje, mas gostaria de terminar dando realce ao futuro. É maravilhoso pensar, num momento como este, em todos aqueles que nos irão visitar nos próximos anos. O nosso trabalho agora passa por manter este espaço, criar novas experiências e enfrentar novos desafios.
Ao percorrer estes Jardins, vocês irão observar as formas como as gerações futuras poderão aproveitar ao máximo este local. Neste dia especial, manifestamos a esperança e a expetativa de que o Jardim Aga Khan aqui na Universidade de Alberta seja verdadeiramente um presente que dê constantemente algo de novo.
Obrigado.