Por Sua Alteza o Aga Khan, Evora, Portugal · 12 fevereiro 2006 · 3 Min
Presidente Sampaio Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Freitas do Amaral Reitor Manuel Patrício Professor Adriano Moreira Membros do Senado, Conselho Científico e Universitários Excelências Distintos Convidados Senhoras e Senhores
Estou profundamente comovido pelo caloroso acolhimento e pelas generosas palavras que me dirigiram. Eu aceito esta honra com elevada gratidão e humildade, consciente da grande distinção e das realizações dos que anteriormente receberam esta honra.
A ocasião a que hoje assistimos é especialmente feliz, pois surge na sequência de uma longa e estreita relação entre o Imamat Ismaili e a sua comunidade e a República e gentes de Portugal. Os nossos laços são os mais fortes e estão enraizados num sentido de responsabilidade partilhada na luta em prol do bem comum.
A Universidade de Évora é um antigo bastião deste sentido de equidade e ordem moral, princípios que sustentam a sua tradição de excelência académica, nutrindo o mérito, onde quer que ele exista.
Estes são os valores que a Península Ibérica irradiou, como um inspirador farol de luz, representando as épocas verdadeiramente gloriosas da história humana, quando os mundos Muçulmano e Judaico-Cristão desenvolveram elos construtivos, enriquecendo as suas civilizações e capacitando as suas instituições de ensino superior com novas fontes de conhecimento.
É um privilégio estar associado a uma Universidade que se manteve fiel por tantos séculos ao princípio de que os frutos da educação e da aprendizagem são para estarem ao serviço da humanidade.
No Islão, este é um princípio central da crença. Nessa tradição, os meus antepassados, os Imam-Califas Fatimidas do Egipto, que fundaram a Universidade Al-Azhar e a Academia do Conhecimento no Cairo há mil anos, encaravam a aquisição de conhecimento como um meio para a compreensão, para melhor servir a criação de Deus.
Para eles, o verdadeiro objectivo da aprendizagem, e do dom da razão era o de ajudar na construção da sociedade e o de guiar as aspirações humanas. Na possibilidade de isto poder ser esquecido, a sociedade desses tempos possuía uma riqueza pluralista, quando a noção Corânica de Ahl al-Kitab – as Povos do Livro – e a de uma humanidade eram as forças mobilizadoras da tolerância e do respeito pela diferença.
Umas das grandes lições da história é a de que uma sociedade apenas pode conduzir o progresso humano quando conseguir ultrapassar a sua insularidade e a suspeita “do outro”, e, ao invés, encarar a diferença como uma fonte de força. Pois, enquanto o nosso novo século continua a ser prejudicado pelo conflito e pela tensão, o efectivo mundo de amanhã é um mundo pluralista, que compreende, abraça e é construído com base na diversidade.
É por isso que vejo de forma tão apaixonada a luta contra a pobreza, e o respeito pelos valores do pluralismo, como dois dos testes mais significativos para que o Século XXI venha a ser uma era de paz , estabilidade e progresso globais.
Estes dois desafios são um compromisso de todo o espectro de instituições e programas do Imamat Ismaili que constituem a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (Aga Khan Development Network), sendo uma das suas bases a aposta na educação, desde o pré-escolar ao nível superior. As agências da AKDN são não-confessionais e abertas a todos, sem discriminação, guiadas pelo princípio do Imamat de substituir as paredes que dividem por pontes que unem.
A sua ética é a da convergência global e o desenvolvimento de uma sociedade civil que conviva com e mobilize as forças do pluralismo para invocar o melhor do empreendimento humano.
Sinto-me profundamente honrado que esta instituição histórica de ensino superior, que já em muito contribuiu para a causa humana, me tenha considerado como um dos seus estimados graduados.
Obrigado.