3 junho 2025 · 5 Min
AKF
Com o início do Fórum Global Schools2030 esta semana, este artigo - publicado pela primeira vez pelo Daily Monitor a 26 de Maio de 2025 - explora a forma como os educadores em África podem moldar o futuro de uma geração em rápido crescimento.
Ao longo dos próximos 25 anos, a população de África deverá duplicar para os 2,5 mil milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial total. Esta projeção promete muitos benefícios, incluindo a expansão dos mercados, a inovação e o aumento da produtividade.
Mas será esta transformação demográfica compatível com o crescimento económico?
Amin Mawji OBE
A resposta a esta pergunta dependerá da capacidade do continente de aproveitar o seu capital humano, ao mesmo tempo que lida com as suas limitações estruturais. Os decisores políticos da região debatem-se com questões de falta de emprego, urbanização sem industrialização e o aumento da exclusão digital. Estes problemas, herdados dos padrões colonialistas de subdesenvolvimento, limitam a eficácia das reformas educativas, restringe a criação de emprego e dificultam a industrialização - problemas que enfrentam muitos países de todo o continente.
A população de África está a caminho de duplicar até 2050, chegando aos 2,5 mil milhões - um quarto do total mundial. É uma transformação que irá remodelar o panorama demográfico global.
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A Comunidade da África oriental exemplifica esta dinâmica. O bloco económico regional tem populações jovens em rápido crescimento, o que indica uma substancial expansão da força de trabalho nas próximas décadas. Neste contexto, as escolas da África Oriental podem muito bem ser as suas instituições mais importantes. Mas estarão os sistemas educativos a acompanhar este crescimento? E até que ponto estão os professores bem posicionados para influenciar de forma positiva um dividendo demográfico?
No Quénia, no Uganda e na Tanzânia, a consciência dessa vaga que se aproxima está a impulsionar a transformação. Com a mudança para um “Currículo Baseado em Competências” (CBC), cujo objetivo é a transição da aquisição de conhecimentos para a sua aplicação - a aprendizagem tornou-se mais orientada para as competências, e os professores são reconhecidos como fundamentais para o sucesso dessa reforma.
O exemplo do Quénia constitui um bom caso de estudo sobre como posicionar os professores como agentes de reforma. Desde a introdução do CBC, em 2017, mais de 300 mil professores receberam formação para abandonar a aprendizagem mecânica e adotar abordagens mais centradas na investigação e no aluno. A Comissão de Serviço dos Professores também introduziu o programa de Desenvolvimento Profissional dos Professores, com o objetivo de melhorar continuamente as competências.
No Quénia, no Uganda e na Tanzânia, a mudança para um Currículo Baseado em Competências está a transformar a educação. Com foco nas competências em vez do conhecimento mecânico, os professores estão agora no centro da preparação dos alunos para um futuro em rápida mudança.
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Ao abrigo deste programa, os workshops de formação de professores centram-se no desenvolvimento de uma pedagogia inovadora, promovendo a inclusão e focando-se nas necessidades dos alunos. Como diz Anne Gachoya, vice-Diretora de Educação do Ministério de Educação do Quénia: “Professores melhor formados significam melhores resultados de aprendizagem.”
A Tanzânia oferece outro exemplo elucidativo. Após a introdução da educação básica gratuita em 2016, as matrículas aumentaram drasticamente, colocando muita pressão nas salas de aula e nos professores. Em resposta a isso, e com o objetivo de melhorar a formação dos professores, o governo lançou o Quadro Nacional para o Desenvolvimento Profissional Contínuo dos Professores, popularmente conhecido como MEWAKA (Mafunzo Endelevu kwa Walimu Kazini).
O programa, apoiado pelo Banco Mundial e por outros parceiros, oferece aos professores formação nas escolas, oportunidades de mentoria e acesso a recursos de aprendizagem digital. Ao dar prioridade à aprendizagem entre pares e ao apoio prático, o MEWAKA pretende transformar a forma como os professores colaboram e resolvem os desafios da sala de aula. Os primeiros resultados sugerem que está a melhorar tanto o moral dos professores como o envolvimento dos alunos.
Anne Gachoya, vice-Diretora de Educação do Ministério de Educação do Quénia
Também o Uganda está a fazer bons progressos. Confrontado com resultados persistentemente baixos em termos de alfabetização, o país investiu na requalificação dos professores do ensino básico em métodos de ensino baseados na fonética, com ênfase nas línguas locais. Em alguns distritos, a fluência de leitura dos alunos mais do que duplicou. Tal como os seus vizinhos, o Uganda também teve de lidar com questões sistémicas mais profundas como as turmas com muitos alunos, as infraestruturas inadequadas e o absentismo dos professores. Um estudo do Banco Mundial estima que as taxas de absentismo dos professores, no Uganda, se situem, em média, entre os 27 e os 30%.
A forma dos sistemas de educação da atualidade irá moldar os resultados económicos e sociais do futuro, libertando o dividendo demográfico de África.
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Porém, embora cada país enfrente um conjunto único de desafios e oportunidades nas salas de aulas, surgiu uma visão comum em toda a África Oriental: que o sucesso da reforma curricular não depende apenas de documentos políticos, mas também das pessoas - dos educadores - que os colocam em prática. A capacidade dos professores de aplicar as reformas em salas de aula diversificadas é o que determinará se a vaga demográfica da região poderá trazer dividendos.
É aqui que entram em jogo iniciativas como a Schools2030. Como uma iniciativa de 10 anos que abrange 10 países (incluindo o Quénia, a Tanzânia e o Uganda), e liderada pela Fundação Aga Khan e pelas suas parcerias, a Schools2030 está empenhada em capacitar os educadores e as comunidades nos seus contextos locais específicos.
“No centro da Schools2030 está o foco na atuação dos professores - reconhecendo os educadores como líderes, inovadores e agentes ativos na reforma educativa”, diz Halima Shabaan, Coordenadora Nacional da Schools2030 no Quénia. Através de parcerias com os governos, a Schools2030 providenciou uma plataforma para que os professores fossem ouvidos e celebrados ao partilharem as suas histórias de mudança e transformação.
Halima Shabaan, Coordenadora Nacional da Schools2030 no Quénia
Com este apoio, professores de toda a África Oriental estão a diagnosticar lacunas de aprendizagem, a criar soluções e a medir os impactos. Um professor no Quénia, por exemplo, criou o “Speak-up Spot” - uma caixa onde os alunos podem partilhar as suas preocupações, de forma anónima, através de bilhetes escritos e colocados na caixa. Estas preocupações são depois discutidas com os pais, criando um ciclo de informação e retorno que aborda tanto as necessidades académicas e emocionais, como reforça o envolvimento dos pais.
Há outras inovações a espalhar-se além-fronteiras. Uma ferramenta de alfabetização criada na Tanzânia, o modelo “T-Learning”, foi adotada e adaptada em outras zonas da região. Por exemplo, professores em salas de aula no Quénia fizeram versões desse modelo para ensinar outras disciplinas, incluindo Ciências. Notavelmente, um professor de uma escola para invisuais adicionou braille às letras do “T-Learning”, tornando a inovação verdadeiramente inclusiva.
Embora a África Oriental já esteja a mostrar o que é possível fazer quando os educadores são colocados como participantes-chave na reforma educativa, ainda há muito trabalho por fazer.
O desempenho dos sistemas educativos atuais é um fator determinante para os resultados económicos e sociais do futuro. Uma força de trabalho numerosa e qualificada pode atrair investimentos e impulsionar o crescimento económico, concretizando um dividendo demográfico. Por outro lado, se a educação for insuficiente, os riscos de aumento da pobreza, desemprego juvenil e instabilidade política são igualmente profundos. A aspiração é garantir que a influência futura de África seja moldada não apenas pelos seus números, mas também pela qualidade das suas salas de aula e pela criatividade daqueles que as lideram.
O 4.º Fórum anual Schools2030 irá questionar: como podem os professores e as escolas ser os parceiros ideais para enfrentar os desafios mais difíceis da Educação?
AKF
À medida que os líderes, profissionais e decisores políticos na educação se preparam para o encontro em Nairobi do Fórum Global Schools2030 de 3 a 5 de Junho, é especialmente oportuno o debate sobre o crescimento da população em África - e a forma como os nossos sistemas educativos podem ajudar a gerar um dividendo demográfico.
Saiba mais e inscreva-se para a transmissão ao vivo.
Amin Mawji OBE é o Representante Diplomático da AKDN para o Quénia e o Uganda.
Este artigo foi originalmente publicado no Daily Monitor.