Fundo Aga Khan para a Cultura
Índia · 18 novembro 2024 · 5 Min
No início deste ano, abriram-se finalmente as portas do Museu do Complexo Património Mundial to Túmulo de Humayun, completando um projeto de restauro de 27 anos numa das áreas mais afamadas de Deli: o Basti de Hazrat Nizamuddin.
De 1997 para cá, a Iniciativa de Renovação Urbana de Nizamuddin recuperou de forma meticulosa quatro importantes patrimónios aqui localizados: o Viveiro de Sunder, com cerca de 36 hectares, o Complexo de Jardins e Túmulos de Batashewala, do século XVI, o Serai de Azimganj, do período mogol, e o próprio Túmulo de Humayun.
O Museu – construído no subsolo para preservar a integridade do complexo de túmulos – oferece hoje em dia um lugar de exibição da arte, cultura e história arquitetónica da zona de Nizamuddin, e marca o culminar desta grande obra de preservação do património.
Projetos como este podem não parecer associados às preocupações materiais das pessoas que vivem nas suas proximidades, mas o trabalho da iniciativa de Nizamuddin tem produzido benefícios socioeconómicos muito para além da preservação física dos locais.
O número de visitantes disparou, com os habitantes locais a arranjarem emprego como artesãos, a obterem qualificações como guias e a sentirem-se capacitados enquanto empreendedores. As infraestruturas locais foram melhoradas, as mulheres passaram a ter emprego e as crianças têm recebido educação no âmbito desta iniciativa. No Viveiro de Sunder, os habitantes locais têm agora um espaço verde de excecional beleza, proporcionando um ar mais puro e um refúgio para a contemplação, a meditação e um escape das pressões da cidade.
Ratish Nanda, arquiteto de conservação e Diretor Executivo do Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC) na Índia
Estes resultados ao nível do desenvolvimento são extremamente gratificantes e um pré-requisito para este tipo de trabalho. O AKTC não realiza obras de restauro de património cultural em nenhum lugar sem demonstrar que essas irão levar a uma melhoria da qualidade de vida dos residentes locais.
Os locais históricos com a dimensão do Túmulo de Humayun são recursos essenciais para a zona onde se encontram, com potencial económico não apenas no imediato, mas inclusive para as gerações futuras. Muitas vezes, são o único recurso viável que as comunidades locais possuem, e é da mais elementar justiça que o seu valor seja reconhecido.
Mas a zona de Nizamuddin não é apenas um recurso económico, é também um recurso cultural. O seu restauro faz muito mais do que criar empregos ou impulsionar a atividade económica, preserva um inestimável legado cultural para a Índia e para o mundo. A partir de agora, o Museu do Complexo Património Mundial do Túmulo de Humayun explica e transmite este legado aos seus milhões de visitantes.
É um legado que a Índia deve valorizar. A área de Nizamuddin é um testemunho vivo da presença enraizada do pluralismo étnico, do sincretismo religioso e da tolerância cultural que atravessam a história do país. A intensa diversidade da Índia está fisicamente incorporada no emaranhado de estilos arquitetónicos que se entrelaçam no local, evidenciando mais de cinco séculos de construção contínua. Podem ser encontradas a poucas centenas de metros umas das outras estruturas de estilo tughlaq, mogol, sufi, rajput e colonial, refletindo assim esta riqueza de influências.
O Túmulo de Humayun é um microcosmo desse mesmo fenómeno, incorporando uma variedade de elementos hindus pré-islâmicos no seu estilo arquitetónico mogol. Os seus acabamentos, coberturas, treliças e a impressionante construção em arenito vermelho refletem a influência dos artesãos hindus, ilustrando a fusão de estilos e técnicas que caracterizaram a arquitetura mogol.
O nome de Nizamuddin é inspirado em Hazrat Nizamuddin Auliya – um santo sufi cujos ensinamentos destacavam o amor, a tolerância e a espiritualidade – e sempre atraiu poetas, músicos e estudiosos, tornando-se um berço natural da cultura hindustani.
Muitos dos túmulos desta área albergam os restos mortais de gigantes das artes, incluindo o lendário poeta Amir Khusrau, considerado o pioneiro da música e poesia clássica hindustani, e o criador das bases de géneros como o qawwali e o ghazal – ainda hoje fulcrais na cultura hindustani. As ossadas de outras pessoas célebres também estão enterradas nas proximidades, como as de Mirza Ghalib, o famoso poeta urdu, Jahanara Begum, filha de Shah Jahan, e Abdul Rahim Khan-i-Khana, cujas dohas [versos] ainda hoje são lidas nos livros escolares hindus.
As vidas destas pessoas, na mesma medida do policromatismo arquitetónico do local, são um exemplo do enriquecimento mútuo que tem prevalecido nesta região entre o hinduísmo e o islamismo ao longo dos séculos, especialmente entre as correntes mais místicas sufi e bhakti.
É inevitável que um país tão diverso como a Índia passe por episódios de tensão, assim como de harmonia, como a sua história demonstra largamente. Mas se a história se repete, as nações têm o direito de se perguntar: qual história? Numa altura que a Índia moderna se esforça para unificar a extensa diversidade cultural que a define, Nizamuddin serve como exemplo daquilo que já foi conseguido.