Fundação Aga Khan
Não disponível · 9 janeiro 2025 · 1 Min
2024 foi o ano mais quente alguma vez registado. Notícias de ondas de calor na Índia, inundações em Espanha e seca na Síria tornam evidente a urgência de atingir a neutralidade carbónica – remover pelo menos a mesma quantidade de carbono que emitimos – de modo a desacelerar as alterações climáticas.
Com o prazo para a AKDN atingir a neutralidade carbónica a apenas cinco anos de distância, estamos a descobrir que as soluções baseadas na natureza (SBN) não só combatem as emissões de carbono como também proporcionam benefícios duradouros tanto para as populações como para os ecossistemas.
O ser humano emite mais de 35 mil milhões de toneladas de CO₂ por ano - o suficiente para cobrir o planeta com mais de 3 cm de carbono
Plantar florestas
As árvores absorvem dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera e usam água para transformá-lo em oxigénio e glicose. À medida que as folhas e os ramos se vão decompondo, vão transferindo carbono para o solo. Mas em que quantidade?
“Numa única espécie arbórea, as taxas de crescimento, a suscetibilidade a doenças, o rendimento das culturas e o armazenamento de carbono podem variar significativamente”, diz Mariam Matti, Diretora Global para a Avaliação e Sustentabilidade Ambiental da AKDN.
As diferenças são ainda maiores entre diferentes espécies, regiões e climas. Os manguezais armazenam cinco vezes mais CO2 do que as florestas tropicais. E a densidade e biodiversidade das microflorestas tornam-nas especialmente eficientes no armazenamento de carbono.
A AKDN já plantou 89 milhões de árvores desde 1982
A plataforma de SBN da AKDN, que será lançada este ano, irá colmatar a lacuna de informação existente. A tecnologia de mapeamento e análise geográfica irá disponibilizar informações detalhadas sobre os locais, espécies e plantas que cultivarmos, sejam algumas mudas de damasco numa aldeia ou um restauro paisagístico em larga escala.
O acompanhamento das taxas de crescimento e sobrevivência irá ajudar no planeamento de projetos futuros – e a análise de imagens de satélite, biomassa, solos, clima e muito mais irá permitir o cálculo da quantidade de carbono que está a ser armazenada.
Infelizmente, certas perturbações como incêndios ou a ação da indústria madeireira reenviam grande parte deste carbono para a atmosfera. Mas, mais uma vez, as soluções baseadas na natureza podem ser uma ajuda. Colocar cabras e ovelhas a pastar nas florestas mantém a vegetação sob controlo, reduzindo a quantidade de combustível seco passível de causar um incêndio.
Com fontes alternativas de combustível, as comunidades podem tirar proveito financeiro das florestas em vez de deitá-las abaixo. Veja como as mulheres moçambicanas estão a usar os manguezais para a apicultura.
O cultivo de árvores é recompensador a nível alimentar, económico e de proteção contra o sol, o vento, a chuva e as ondas, assim como a nível do armazenamento de carbono: as árvores são incrivelmente multifuncionais.
Mudar para a agricultura regenerativa
Didier Van Bignoot, Consultor Global para a Agricultura, Segurança Alimentar e Resiliência Climática da Fundação Aga Khan (AKF)
A agricultura regenerativa abrange culturas agrícolas, pecuária, aquicultura e agrossilvicultura, utilizando métodos que restauram ativamente o ecossistema. Utiliza recursos naturais em vez de sintéticos, adiciona plantas biologicamente diversas que restauram os solos e integra animais e árvores no sistema de produção agrícola – o que aumenta a captura de carbono.
Os terrenos ficam cobertos por plantas durante todo o ano. Estas evitam a erosão e decompõem-se no solo na forma de carbono, o qual pode ficar armazenado durante séculos. O uso de culturas diversas, de alto rendimento e ricas em nutrientes também cria boas forragens para o gado, reduzindo os custos na sua alimentação.
Os solos ficam o mais tempo possível sem serem perturbados. Isto leva à preservação das redes fúngicas que armazenam e distribuem carbono; mantém intacta a estrutura dos solos; e impede que o carbono se liberte para o ar. Também cria um bom ambiente para os vermes, que removem os solos de forma natural, reduzindo a necessidade de uma aragem para a libertação de carbono.
Quase 60% de todas as espécies vivem nos solos, o habitat com maior biodiversidade do planeta
Os animais seguem os seus padrões naturais, pastando intensivamente em pequenas áreas, e rapidamente seguindo para outras. Isto estimula as plantas a voltarem a crescer, espalha o adubo pela terra como uma alternativa aos fertilizantes emissores de C0₂, quebra a superfície dura dos solos e calca a erva não consumida para o interior dos solos que deste modos são enriquecidos de forma natural. Os animais ficam mais saudáveis, tendo plantas frescas à disposição de poucos em poucos dias e deixando larvas parasitas para trás.
Adicionar árvores aos terrenos agrícolas permite que os solos retenham mais água, oferece um lar aos polinizadores, melhora os solos e reduz a erosão. Os pequenos agricultores podem diversificar os seus rendimentos com fruta, mel ou madeira.
A AKF tem ajudado os agricultores a desenvolver receitas locais com baixas emissões de fertilizantes, pesticidas e produtos para o tratamento de doenças fúngicas. Os agricultores que mudaram para matérias-primas locais completamente naturais reportaram uma poupança até 95% nos seus custos com matérias-primas e uma melhoria significativa na sua saúde. As empresas de produção de recursos biológicos também geram receitas para os grupos de mulheres responsáveis.
No Quénia, a AKF está a formar jovens para que ensinem práticas agrícolas sustentáveis aos agricultores. Uma dessas Campeãs Verdes, Dorothy Mwende, elenca os benefícios sociais:
“Posso formar um grupo de agricultores sem medo e demonstrar-lhes as partes práticas. O trabalho em equipa nos meus projetos diários tem vindo a promover a unidade. Estou a trabalhar com diferentes comunidades e também sou capaz de aconselhar os membros mais velhos das comunidades.”
Dorothy refere as implicações relativas ao género: “Vejo mulheres a cultivar a terra, a colherem e a levarem os produtos para o mercado – e a tomarem decisões acerca do dinheiro que ganham com os seus produtos”.
Tornar as cidades mais verdes
Para ajudar a natureza a armazenar carbono em áreas urbanas, podemos criar parques e jardins, plantar microflorestas e adicionar vegetação aos telhados. Como já vimos, as árvores, as plantas e os solos sequestram o carbono.
Príncipe Rahim Aga Khan, falando acerca do Parque Al-Azhar no Cairo, Egipto
A vegetação urbana reduz as emissões de outras formas. As cidades podem ter uma temperatura mais elevada até cinco graus face aos arredores. Os telhados com vegetação baixam as temperaturas no interior dos edifícios e as árvores podem arrefecer o ar até 5 °C, reduzindo as necessidades de ar condicionado em 25%. Absorvem poluentes das movimentadas estradas circundantes, reduzindo as doenças respiratórias e, por consequência, a necessidade de inaladores que funcionam através de propelentes, os quais são responsáveis no Reino Unido por 3% das emissões de carbono do Serviço Nacional de Saúde.