Fundação Aga Khan
Tajiquistão · 9 maio 2023 · 5 Min
O Tajiquistão tem apenas 7% do seu território adequado à agricultura, e segundo as estimativas do Programa Alimentar Mundial, 97% dessas terras estão sujeitas à degradação dos solos, o que leva o país a importar mais de metade das suas matérias-primas agrícolas e três quartos dos seus produtos alimentares. Entre as pressões adicionais sobre a capacidade de cultivar e comprar alimentos incluem-se os efeitos das alterações climáticas nas temperaturas e na disponibilidade de água, o crescimento populacional, os choques repentinos como a COVID-19 e a guerra na Ucrânia, que afetam os preços a nível global.
No âmbito da Estratégia Nacional de Desenvolvimento anterior, a qual incluiu a recuperação de terrenos, a resolução de dívidas de agricultores e outras reformas do sector agrícola, o Governo do Tajiquistão foi capaz de aumentar a produção agrícola bruta em quase nove por cento. Como parte da Estratégia Nacional de Desenvolvimento até 2030, o Governo está agora a trabalhar com vista ao crescimento do sector agrícola, monitorizando a nutrição e apoiando as importações para garantir o acesso económico e físico a alimentos nutritivos.
A AKDN está a apoiar a produção alimentar e a nutrição a partir de vários ângulos: pesquisa, aquisição e distribuição de matérias-primas adequadas, como sementes; aumento da produtividade através da formação; construção de infraestruturas rurais, como canais de irrigação; fornecimento de equipamentos de processamento pós-colheita e armazenamento de alimentos; e prestação de apoio nutricional a mães, bebés e adolescentes em risco de raquitismo.
Investigação
O Instituto de Investigação de Sociedades de Montanha (MSRI) da Universidade da Ásia Central está a implementar três projetos de investigação na área da segurança alimentar e dos sistemas alimentares no âmbito do projeto Thrive Tajikistan: Melhorar os Serviços Sociais, Gestão e Inclusão Económica em Regiões Fronteiriças, uma parceria entre a USAID e a Fundação Aga Khan (AKF):
Matérias-primas de alta qualidade
“Eu trabalhava dia e noite no meu terreno”, diz Hamza, um produtor de batata de Khatlon, “mas os nossos mercados só têm disponíveis batatas-sementes locais, as quais são suscetíveis a muitas doenças. Uma grande parte da colheita era de baixa qualidade, e não éramos capazes de comê-la, vendê-la ou usá-la para a próxima safra."
Hamza juntou-se a um dos Fundos Rotativos de Matérias-Primas Agrícolas (AIRF) criados pela AKF e pela USAID em parceria com as comunidades. Estes fundos são geridos pelos comités agrícolas existentes nas aldeias e disponibilizam reservas de dinheiro que podem ser usadas pelos agricultores para comprar materiais como sementes e fertilizantes. Os agricultores também recebem formação ao nível da seleção de sementes, das práticas de produção e do manuseamento e armazenamento pós-colheita.
A AKF e a USAID trabalharam com os agricultores locais para selecionar e adquirir sementes de batata Bigrossa, que crescem bem no Tajiquistão e são menos suscetíveis a doenças. Hamza recebeu 100 kg de batatas-sementes, que cultivou numa área no seu terreno com 1,2 hectares, fazendo uso da sua formação em agronomia. “Produzi 900 kg de batatas de alta qualidade”, disse. “Armazenámos 150 kg de batata-semente para a próxima colheita, vendemos 300 kg e obtivemos um bom rendimento, e atualmente estamos a usar os 330 kg como alimento para a minha família. Para dar continuidade aos AIRF e apoiar outros agricultores locais, devolvi 120 kg de batata-semente aos AIRF. Agora estou convicto de que, mesmo em casos de escassez de alimentos ou do aumento do preço dos alimentos, teremos batatas disponíveis para consumo familiar, armazenando colheitas para a próxima estação e gerando receitas a partir de vendas.”
Irrigação
Até à data, a AKF já implementou 600 sistemas de irrigação, através dos quais as redes de canais geridas pelas associações locais de utilizadores de água desviam a água dos rios para os campos através de canais mais pequenos. Estes têm melhorado a gestão dos terrenos e aumentado a produtividade agrícola, ajudando cerca de 720 000 pessoas a aumentarem a sua segurança alimentar e financeira.
O canal de irrigação na aldeia de Shamtuch, em Sughd, foi construído durante a era soviética a partir de pedras e lama. Murod, o atual líder do grupo de construtores do canal de irrigação, explicou que 70% da água é escoada para os terrenos ao longo do caminho, com o resto a demorar quatro horas a chegar ao seu destino.
No âmbito de um programa de gestão de recursos naturais financiado pela União Europeia e pela AKF em 2022, foram providenciados materiais de construção para os aldeões construírem um canal de betão com 400 metros. O Sr. Murod diz que este agora permite regar 50 hectares de campos numa hora. Os moradores receberam financiamento para a construção de mais 300 metros e estão ainda a construir uma estrada ao longo do novo canal, encurtando o trajeto diário das crianças até à escola na aldeia vizinha de Qarqtuda.
Armazenamento
No distrito de Dusti, em Khatlon, os agricultores conseguem produzir até 20 toneladas de romã por hectare, vendendo-as em Khatlon e em todo o país. O projeto Thrive ajudou 125 agricultores a juntarem-se com o objetivo de aumentar a produtividade e o acesso aos mercados.
O grupo possui 62 hectares de pomares de romãs, produzindo mais de 100 toneladas por ano, mas uma boa parte acabava estragada. O Thrive renovou um antigo edifício e transformou-o numa unidade de armazenamento com 140 metros quadrados com vista a preservar as colheitas, já que as romãs exigem baixos níveis de oxigénio e uma temperatura entre 2 e 6 °C. O equipamento de ar condicionado, as paredes duplas e as portas hermeticamente fechadas mantêm as romãs frescas durante quatro a cinco meses.
“O armazenamento evitou o desperdício de 50 toneladas de romã”, disse o líder do grupo Khurshed Buriev. “Alguns agricultores já reservaram espaços nos armazéns do grupo para a próxima safra. Chegam a vir cá empresários de Dushanbe e Khujand para comprarem 1 kg por 10 somones (86 cêntimos). Isto é lucrativo para os agricultores, já que não precisam de pagar pelo transporte.”
Nutrição
As taxas de subnutrição têm diminuído na última década. No entanto, no início de 2023, o Programa Alimentar Mundial ainda classificava 30% da população do Tajiquistão como moderadamente insegura a nível alimentar: incapaz de obter regularmente uma dieta saudável e nutritiva. A Iniciativa da AKF de Combate à Subnutrição na Ásia Central tem como objetivo prevenir e tratar a subnutrição e melhorar a nutrição de toda a comunidade, apoiando os esforços do Governo com vista a quebrar o ciclo de subnutrição de toda uma geração.
Os funcionários das unidades públicas são treinados e apoiados na determinação do peso dos bebés nas primeiras 24 horas após o seu nascimento, identificando aqueles com peso reduzido e encaminhando aqueles com menos de 1,5 kg para a unidade de cuidados intensivos. São disponibilizados micronutrientes e suplementos alimentares, como papas fortificadas, a mulheres grávidas e lactantes, e bebés e adolescentes com baixo peso.
Esta abordagem multissectorial à segurança alimentar e nutricional no Tajiquistão combina a inovação com a conservação, apoiando os esforços de agricultores, pequenas empresas e pessoal médico do Tajiquistão. Funciona como complemento às iniciativas de irrigação e água potável da AKDN com vista a reforçar o progresso da Estratégia Nacional de Desenvolvimento no sentido de melhorar as sementes, utilizar novas técnicas agrícolas e ajudar os produtores agrícolas a chegar aos mercados.