Serviços Aga Khan para a Educação
Não disponível · 22 janeiro 2025 · 1 Min
A paz, lembra a ONU, depende do envolvimento das pessoas com a sociedade, da valorização de diferentes culturas e visões do mundo, e da abordagem às causas fundamentais dos conflitos. A educação desempenha um papel vital, pois existe uma forte ligação entre estabilidade e harmonia e altos níveis de ensino superior.
No entanto, as escolas enfrentam grandes desafios: sistemas focados na realização de exames, recursos limitados e distrações modernas. Perante tudo isto, como pode a educação promover a paz?
Construindo uma cultura de inclusão e respeito
Sua Alteza o Aga Khan
Na escola, as crianças de diferentes etnias, religiões e origens socioeconómicas encontram-se, especialmente se forem admitidos estudantes qualificados, independentemente da sua capacidade para pagar as propinas. Os professores certos e uma filosofia escolar enraizada na inclusão e no respeito mútuo podem promover uma compreensão que transcende as divisões tradicionais. “Tratávamo-nos uns aos outros como amigos”, diz Zayn Kassam, “sem nos importarmos se pertenciam a religiões diferentes ou se uns iam a correr descalços para a escola enquanto outros vinham de Mercedes-Benz.”
Os currículos, as atividades e os estilos de ensino podem influenciar as interações dos alunos.
O projeto Escolas2030, uma iniciativa liderada pela Fundação Aga Khan (AKF) para melhorar os resultados de aprendizagem em 10 países, destaca a construção de relações, a empatia e a tomada de decisões éticas. Uma escola participante no Brasil, por exemplo, ensina muitas vezes em círculos de modo a promover a igualdade e o sentimento de pertença, e ao ar livre, para incentivar o vínculo com o ambiente e o respeito pelas culturas indígenas. Os avós visitam-nos para falar sobre a sua história e cultura familiar, para que as crianças aprendam sobre a sua própria identidade e a de outros.
O currículo da International Baccalaureate (IB) nas Academias Aga Khan é reforçado pelo seu foco na ética, no pluralismo, nas culturas, na gestão e sociedade civil, e na economia para o desenvolvimento. Tem como objetivo formar alunos licenciados que “ajudem a criar um mundo melhor e mais pacífico através de uma educação que fomente a compreensão e o respeito intercultural”.
Ham Serunjogi, ex-aluno da Academia Aga Khan de Mombaça e membro do Conselho Consultivo do Presidente para a Relação com a Diáspora Africana nos Estados Unidos
Promovendo a responsabilidade cívica
Confúcio
Se as crianças sentirem empatia, autonomia, responsabilidade e um sentido de comunidade, é provável que cresçam com vontade de contribuir para o mundo. Os alunos que fazem voluntariado ganham confiança, propósito e uma ligação com os outros, para além de uma experiência valiosa.
Como parte da experiência IB, os alunos combinam criatividade, atividade e serviço social para conseguirem algo para as suas comunidades. Luciano Torriani queria providenciar à sua comunidade o acesso a serviços básicos no condado de Kwale, no Quénia. Em parceria, inventou um sistema de fornecimento de eletricidade e purificação de água com um custo de 40 xelins (50 cêntimos). Arya Abdul recebeu um subsídio de 1500 dólares para empregar trabalhadores qualificados para assistirem na mobilidade de idosos e deficientes tanzanianos. Outros alunos projetaram um sistema de irrigação sustentável e acessível que ajuda os agricultores indianos a poupar água.
Como observou Mohamed Lachemi, Presidente e Vice-Reitor da Universidade Ryerson: “Posso dizer que foi verdadeiramente único ouvir todos os alunos a falarem acerca do progresso das suas comunidades, em vez de se focarem em conquistas individuais. Os valores e a ética expressos pelos alunos da Academia foram verdadeiramente inspiradores.”
Preparando os jovens para promover mudanças pacíficas
Nelson Mandela
A educação dota os jovens das competências necessárias para moldarem o seu futuro e contribuírem para sociedades pacíficas. Competências como a literacia e a numeracia permitem a participação na vida económica, social e cultural: ter noção dos seus direitos, conseguir um emprego, recensear-se para votar ou gerir um orçamento familiar. Estas capacidades criam uma base estável para uma cidadania informada e ativa.
No litoral do Quénia, a formação profissional tem oferecido aos jovens vulneráveis as ferramentas para superarem os ciclos de pobreza e exclusão social. Como Walid Ahmed, Diretor da Aliança da Juventude de Lamu, afirmou: “Sem educação e sem trabalho, o impacto na sociedade é o crime, o roubo e o abuso de drogas. As mulheres são preparadas para casarem demasiado cedo para tentarem garantir o seu futuro.” Em resposta a isto, a AKF estabeleceu uma parceria com o Ministério da Educação do Quénia para integrar currículos baseados em valores juntamente com cursos de formação profissional para 16 000 jovens, ajudando-os a desenvolver competências e a terem um propósito.
A educação também promove o pensamento crítico, o trabalho em equipa e a resolução de problemas, competências essenciais para enfrentar os desafios da sociedade e participar em processos democráticos. Num mundo cada vez mais moldado pelas notícias digitais, os jovens devem ser capazes de detetar a desinformação, explorar diversos pontos de vista para além das bolhas algorítmicas e participar num diálogo informado. Estas competências são vitais para evitar divisões e promover um diálogo construtivo e pacífico.
Em última análise, a educação cria populações mais bem equipadas e mais propensas a enveredar por caminhos não-violentos com vista à mudança. Isto traz benefícios a longo prazo: as revoltas não-violentas que derrubam regimes autoritários têm mais probabilidade de conseguir fazer a transição para a democracia e manter uma paz civil.
Ajudando os alunos a lidar com conflitos e a preparar-se para a paz
Meredith Preston McGhie, Secretária-Geral do Centro Global pelo Pluralismo, dedicou muitos anos a enfrentar alguns dos piores conflitos e instabilidades em África e na Ásia. Ela considera que a educação é importante na criação e manutenção da paz: “Percebi que era indispensável rever muitos elementos do tecido social, desde o ensino da história e da forma como a identidade étnica era representada no currículo educacional à necessidade de tornar os espaços online menos divisivos.”
No passado, a educação nas escolas ruandesas serviu para aprofundar as divisões entre hutus e tutsis, com práticas como as quotas de admissão por etnia e o ensino de estereótipos racistas. Hoje em dia, a educação para a paz e os valores está incorporada em todo o ensino primário e secundário, apostando na unidade nacional, na cidadania global e no pensamento crítico em situações desafiantes.
Durante conflitos prolongados, as crianças perdem o acesso à educação, juntamente com a estabilidade, as oportunidades de interação social e os recursos essenciais, como nutrição e cuidados de saúde. Mas nos locais onde a educação pode prosseguir, a próxima geração está mais bem preparada para lidar psicologicamente, ganhar o seu sustento e liderar o seu país em direção a um futuro melhor.
Em parceria com a UNICEF, a AKF tem ajudado as comunidades sírias a criar infantários, lançando as bases para a obtenção de competências académicas e para a vida. Os infantários ajudam a fortalecer a resiliência e a lidar com as adversidades. Por exemplo, temos o caso de uma menina de seis anos que perdeu o pai na guerra e esteve meses sem falar. A sua família não tinha capacidade para levá-la a um médico, mas o tempo que passou no infantário ajudou-a a lidar com o trauma.
“Ela começou a interagir com a professora e os colegas, ainda sem falar”, diz Razan Alshehawe, da AKF Síria. “Depois de receber apoio emocional especializado e de a sua família ter recebido orientação sobre a forma de cuidar dela, a menina começou gradualmente a comunicar. Quando o novo ano letivo começou, a jovem entrou no primeiro ano como qualquer outra criança – falando, aprendendo e participando.”
Criando um mundo com maior igualdade entre géneros
A ONU concluiu que “a igualdade de género é o principal indicador para a paz – mais do que a riqueza, o nível de democracia ou a identidade religiosa de um Estado“. Negar às mulheres a liberdade de participar na sociedade e a oportunidade de contribuir social e economicamente leva à pobreza e a conflitos a nível nacional.
A educação desempenha um papel crucial na destruição das barreiras que impedem as mulheres e raparigas de aprender, trabalhar e liderar. É capaz de dotar rapazes e raparigas do conhecimento e atitudes para desafiar os papéis e estereótipos tradicionais de género. As escolas podem promover a igualdade através da eliminação de preconceitos de género dos currículos, formando professores em métodos sensíveis ao género e criando ambientes de aprendizagem inclusivos.
Por exemplo, a disponibilidade de casas de banho separadas para estudantes do sexo feminino é essencial para garantir a sua segurança, dignidade e regular assiduidade. Na Índia, as iniciativas nacionais de melhoria do saneamento e da privacidade nas escolas visam reduzir as taxas de absentismo e abandono escolar, particularmente entre estudantes desfavorecidos, garantindo que mais raparigas continuam os estudos.
Ao apoiar as raparigas a permanecer na escola, a educação também oferece alternativas ao casamento precoce, criando oportunidades de carreira e independência económica. Instituições como a Pousada Aga Khan em Sherqilla, no Paquistão, permitem que raparigas de zonas rurais e remotas continuem a estudar mais longe de casa, contornando as restrições em matéria de mobilidade que muitas vezes enfrentam.
Quando a educação capacita as mulheres a contribuir social e economicamente, os benefícios abrangem toda a comunidade. A participação igualitária reduz a desigualdade, fortalece as economias e incentiva a colaboração – ingredientes essenciais para a paz a longo prazo.