O responsável pelo departamento de água em Ferghana, no Oblast de Osh, refere que os novos canais de irrigação em cimento permitem que a água percorra maiores distâncias de forma mais rápida, uma vez que deste modo esta não é absorvida pelo solo.

AKDN / Nicholas McGrath

Fronteira complexa, comunidades divididas


A era soviética trouxe uma grande industrialização e investimento em infraestruturas e serviços públicos para a Ásia Central, mas deixou um legado complexo ao nível da tensão entre etnias e problemas ambientais.


A região é cortada por fronteiras tortuosas e definidas de forma centralizada que deixam muitas vezes as comunidades uzbeques, quirguizes e tajiques em lados diferentes de fronteiras cada vez mais rígidas, mas que dependem dos mesmos recursos naturais partilhados de terra e água.


O legado das novas fronteiras levou à criação de aglomerados de “enclaves” isolados que se concentram em torno das frágeis fronteiras do Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão. Como explicou o responsável pelo departamento distrital de água em Ferghana, do lado quirguiz da fronteira entre Quirguistão e Uzbequistão: “Uma parte significativa desta população é uzbeque. O resto é quirguiz. Nós crescemos juntos. Somos o mesmo povo. Muitas pessoas têm relações familiares que ultrapassam a fronteira. A minha irmã casou-se com um uzbeque e mora no Uzbequistão.”


A água para irrigar a principal cultura agrícola da região, o trigo, e as terras para a pastagem do gado estão sob intensa pressão, mas as nascentes foram divididas entre fronteiras rígidas. Ele continuou:


“Durante a era soviética, as pessoas estavam coletivizadas e a água era canalizada diretamente para as quintas coletivas. Quando o sistema soviético terminou, a administração da água entrou em colapso. As famílias passaram a usar água como entendiam. Os canais de irrigação ficaram gravemente danificados.”


Com o colapso que se seguiu, os orçamentos governamentais desapareceram da noite para o dia, e a transição de um modelo centrado no estado com serviços gratuitos para uma economia de mercado levou ao estabelecimento de Associações de Utilizadores de Água (AUA) administradas pelas comunidades, de modo a aliviar a pressão sobre o governo local.


Como explicou um membro da AUA local no Distrito de Osh: “O governo local deixou de ser capaz de fazer a gestão da água. No passado, a água era gratuita. Mas aos poucos foram sendo introduzidas taxas. Houve muita resistência. As pessoas diziam 'Porque temos de pagar pela água de Deus?' Tivemos de criar uma comissão de mitigação de conflitos para lidar com disputas na comunidade relacionadas com o acesso à água.”