Quénia · 4 julho 2022 · 5 Min
AKU
Desde grandes polos universitários a casas de famílias, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN) está a trabalhar com as comunidades para repensar a forma como os edifícios são desenhados, construídos e geridos para promover uma vida mais segura e sustentável e alcançar a neutralidade carbónica até 2030.
O Dia Mundial do Ambiente é um apelo urgente a uma mudança transformadora com vista à proteção do planeta. Para evitar uma catástrofe climática e manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C, os dados do Programa das Nações Unidas para o Ambiente alertam para a necessidade de reduzir para metade as emissões nos próximos oito anos. Para consegui-lo, os governos, as empresas e as populações de todo o mundo precisam de soluções acessíveis e apelativas que provoquem uma mudança. A ecologização dos ambientes construídos tem um enorme potencial, já que os edifícios são responsáveis por 38% das emissões globais de gases de efeito de estufa. A maioria dos edifícios que existirão em 2050 no mundo em desenvolvimento ainda não foi construída. As alterações climáticas já estão a afetar o ambiente construído, à medida que os desastres naturais vão causando danos em habitações e infraestruturas e o clima extremo vai acentuando a tensão térmica nos edifícios. No entanto, existe tecnologia acessível capaz de tornar os edifícios mais resilientes e amigos do clima.
A AKDN tem desenvolvido capacidades em matéria de eficiência energética e hídrica, energia verde e materiais sustentáveis e tem-nas adaptado em várias zonas do globo, desde a África Subsariana às zonas montanhosas da Ásia. Nestas regiões onde trabalhamos, estamos a aplicar um conjunto de Diretrizes de Construção Ecológica no sentido de garantir que os novos edifícios são eficientes a nível energético e coincidem com os compromissos da AKDN em matéria de clima e ambiente.
Através da utilização destas diretrizes, o Centro da Universidade Aga Khan (AKU) em Nairobi, no Quénia, conseguiu alcançar a certificação IFC EDGE Advanced – o padrão de referência reconhecido globalmente para a construção ecológica – pelas suas múltiplas características de sustentabilidade que atingem pelo menos 40% de poupança de energia e 20% de poupança em água e energia incorporada (energia utilizada na criação de projetos) relativamente à construção convencional. Desde o início que o Centro Universitário teve em conta aspetos de sustentabilidade durante a fase de design, tendo em mente o utilizador e aproveitando ao máximo a área do projeto com menos de dois hectares.
“A certificação do Centro Universitário é exemplar pela sua abordagem holística, incluindo a sustentabilidade e a redução do uso de energia diretamente no design do edifício, em vez de algo a ser adicionado posteriormente. Da mesma forma, a criação de espaços que permitam aos alunos e educadores fomentar a sua aprendizagem é algo que pode vir a ser replicado por outras instituições da região”, disse o Presidente da AKU, o Dr. Sulaiman Shahabuddin.
O edifício é excecional na forma como responde à pressão imobiliária na cidade, ao mesmo tempo que cria espaços muito humanos para a população. O seu design resiste à tentação de maximizar os imóveis através do crescimento na vertical.
Mark Careaga, Representante para o Projeto da Payette, Consultora Principal, reflete sobre a experiência de design: “Este edifício único com um formato ‘de dentro para fora’, que cria uma experiência urbana em miniatura no interior de uma área pequena e restrita, mostra como a arquitetura, o paisagismo, o design urbano e a sustentabilidade podem ser entrelaçadas numa composição coerente, criando um edifício académico altamente funcional com uma distinta experiência de vida no campus.”
Nairobi tem um clima muito temperado, com dias quentes e noites frias. Por estar situado perto do equador, recebe ângulos solares muito elevados, tanto do Norte como do Sul. O Centro aproveita este fator ao máximo, com inúmeros espaços ao ar livre e varandas que funcionam como os corredores principais de cada andar. Os espaços foram projetados com vista para os espaços verdes exteriores e para serem usados para várias interações de aprendizagem fora das salas de aula, incluindo corredores largos para reuniões ou o pátio central, que funciona como a praça central de uma cidade.
Noutros locais, as atividades de construção ecológica incluem um projeto de remodelação residencial de arranha-céus com certificação IFC EDGE em Bombaim, na Índia, e expansões em curso nas Escolas Aga Khan no norte do Paquistão. Através destes edifícios institucionais de grande escala, a AKDN pretende modelar a construção sustentável e desenvolver as melhores práticas que beneficiem as pessoas e o planeta.
A Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH) também está a trabalhar para expandir o acesso e a adoção de práticas de construção ecológica em habitações a preços acessíveis de modo a ajudar as famílias mais vulneráveis. Na Síria, a crise económica e energética em curso e a escassez de água agravam os problemas que as pessoas têm de enfrentar na reconstrução, recuperação e alimentação das suas casas após anos de conflito. Em resposta, a AKAH está a trabalhar com as comunidades e universidades locais para introduzir tecnologias de construção baseadas em terra, com baixo teor de carbono e com uma boa relação custo-benefício. Em Salamieh, com a assistência técnica do Auroville Earth Institute (AVEI), a AKAH está a adaptar e a testar técnicas de construção com Blocos Estabilizados de Terra Comprimida (CSEB) nas condições locais de solo e clima e a formar engenheiros e trabalhadores locais no processo de produção. A AKAH, aplicando as Diretrizes de Construção Ecológica da AKDN, trabalhou com as comunidades para desenvolver projetos de habitação adaptados às ambições das populações e ao contexto local. Os projetos integram avaliações ambientais que abordam a direção do sol e do vento para melhorar a eficiência energética, a iluminação natural e o conforto térmico. Estão igualmente incluídos sistemas de captação de águas pluviais e de energia solar. Através do uso destes projetos e dos blocos de terra produzidos localmente, a AKAH está a trabalhar com trabalhadores e engenheiros locais para construir uma casa de demonstração em Bari, uma aldeia rural em Salamieh. Paralelamente, a AKAH está a realizar sessões de sensibilização e divulgação na comunidade para promover a aceitação dos materiais e designs de construção da arquitetura de terra. O objetivo é oferecer uma opção económica, localmente acessível e adaptada para uma habitação sustentável e de alta qualidade, e desenvolver as capacidades locais de produção, construção e design.
A AKDN está empenhada em alcançar a neutralidade carbónica até 2030 através de metas de redução de emissões carbono baseadas na ciência e de uma compensação a 100% das emissões residuais. A contabilização detalhada dos gases com efeito de estufa nas operações da AKDN mostra que os edifícios representam mais de 80% das nossas emissões diretas de carbono. As Diretrizes de Construção Ecológica da AKDN determinam várias medidas, incluindo que os novos edifícios alcancem os padrões de carbono EDGE Avançado ou mesmo EDGE Zero, e as instalações existentes sejam sujeitas a auditorias energéticas regulares. A ecologização e a descarbonização de habitações e edifícios não só são essenciais para combater as futuras alterações climáticas, como também melhoram de forma tangível a qualidade de vida das pessoas e a capacidade de adaptação aos impactos atuais das alterações climáticas.
5 de junho é o dia internacional mais importante para o ambiente. A campanha #OnlyOneEarth do Dia Mundial do Ambiente 2022 exige medidas coletivas e transformadoras à escala global que celebrem, protejam e recuperem o nosso planeta.