Pakistan · 23 agosto 2021 · 3 Min
AKDN / Christopher Wilton-Steer
O acesso a água potável e ao saneamento no Sul Global é muitas vezes dificultado pela incapacidade dos governos de desenvolver as infraestruturas necessárias. Mesmo quando os governos investem em infraestruturas, estas ficam muitas vezes deterioradas porque os seus utilizadores não podem ou não querem pagar tarifas de água.
A gestão comunitária da água procura resolver o problema através da mobilização dos membros da comunidade para o pagamento e gestão das infraestruturas de água. Na região montanhosa de Gilgit-Baltistão, no norte do Paquistão, a Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH) introduziu esta abordagem em mais de 400 comunidades rurais, alcançando 100 000 famílias, através do seu Programa de Alargamento de Água e Saneamento (WASEP).
Até agora, a abordagem parece ter funcionado bem em áreas rurais com comunidades pequenas e normalmente muito unidas. A AKAH está agora a expandir o WASEP para áreas mais urbanas da região com populações muito maiores, que permanecem na região temporariamente e com diferentes dinâmicas sociais.
Para determinar se este alargamento é viável, o Instituto para o Estudo das Civilizações Muçulmanas da Universidade Aga Khan (AKU-ISMC) em Londres lançou um estudo do WASEP em Gilgit-Baltistão, incluindo dois grandes programas urbanos de abastecimento de água recentes em Jutial e Danyore.
O estudo reúne investigadores em economia, antropologia, geografia, ciências ambientais e engenharia da AKU-ISMC e da Universidade Internacional do Caracórum (KIU) em Gilgit, assim como engenheiros e profissionais de desenvolvimento da AKAH. O professor associado da AKU-ISMC, Jeff Tan, economista autor de publicações sobre a privatização da água e infraestruturas, é o investigador principal do projeto. Os co-investigadores são o Professor Stephen Lyon, da AKU-ISMC, e o Professor Attaullah Shah, da KIU.
As evidências do estudo serão obtidas a partir de entrevistas com 1200 famílias em mais de 60 WASEP e locais de controlo não WASEP em Gilgit-Baltistão, em conjunto com discussões de grupos de reflexão, testes à qualidade da água e auditorias de engenharia.
O estudo incide nos fatores que influenciam a disponibilidade dos membros da comunidade para fazerem contribuições monetárias e em espécie para a construção das infraestruturas e fazer o pagamento das tarifas mensais. Irá avaliar se o sucesso da mobilização social está relacionada com o tamanho de uma comunidade, o apoio institucional mais alargado, a afiliação religiosa, os níveis de educação e as estruturas sociais. Irá avaliar as fontes de conflito, como a passagem de tubagens por terrenos de propriedade privada, e se as questões relacionadas com o estatuto social ou o sectarismo estão a minar a mobilização social no seio de uma comunidade.
Irá também investigar a forma como os terrenos locais afetam a gestão do projeto e até que ponto as mulheres beneficiam e contribuem para a mobilização social e para melhores resultados em saúde e higiene.
“Os sistemas de água sustentáveis estão na essência das comunidades prósperas”, disse Tan. “Este estudo irá originar lições valiosas acerca de fatores sociais, económicos, culturais e técnicos que regulamentam a gestão de recursos hídricos escassos e permitem que as comunidades locais melhorem os seus meios de subsistência.”
A equipa de investigação espera que as lições aprendidas sejam importantes não apenas para a AKAH mas também para o Governo de Gilgit-Baltistão e os intervenientes noutras partes do mundo em desenvolvimento onde o acesso à água é um problema. O projeto com a duração de dois anos é financiado pelo programa Infraestruturas Urbanas de Bem-Estar da British Academy.
Este texto foi adaptado de um artigo publicado no site da AKU e é publicado hoje, 24 de Agosto de 2021, para assinalar a Semana Mundial da Água.