Pakistan · 3 abril 2022 · 3 Min
A Covid-19 teve um impacto devastador em algumas das comunidades mais desfavorecidas do mundo. Os seus efeitos físicos e económicos estão a ampliar as consequências psicológicas dos confinamentos, da incerteza e da perda.
Em regiões como Gilguite-Baltistão, no norte do Paquistão, as comunidades de difícil acesso estão a começar a ter noção da influência da pandemia na sua saúde mental. O Programa Aga Khan de Apoio Rural (AKRSP), com apoio financeiro da União Europeia e da Fundação Aga Khan, está a mitigar alguns destes efeitos através de sessões e serviços de formação psicossocial.
Conheça três mulheres que estão ajudar as suas comunidades a compreender o impacto psicológico da Covid-19 e a saber como melhorar a sua saúde mental.
Fatima, Skardu
Fátima é casada com um trabalhador da construção civil, e têm quatro filhos em idade escolar. Sem conseguir encontrar trabalho durante o confinamento, a família de Fatima gastou quase todas as suas economias e o dia-a-dia tornou-se mais complicado.
“Havia sempre uma impaciência e uma tendência para discutir, fosse da parte das crianças ou do pai”, explicou. “Eu esforçava-me bastante para manter a calma e a paciência, mas era muito difícil. Sem nada para fazerem, os meus filhos começaram a desobedecer-nos. O meu marido, normalmente uma pessoa calma, respondia-lhes.”
“A situação ficou muito complicada, e eu não sabia como lidar com aquilo. Depois fui abordada pelos meus vizinhos, e participámos numa sessão organizada por uma organização de apoio local, durante a qual falámos sobre a saúde mental, e os efeitos da pandemia e do confinamento nos diferentes aspetos da vida. Estas sessões ajudaram-me a entender a situação e a saber lidar com ela.”
Fátima é hoje uma defensora da formação do AKRSP e reforça o seu ensino dentro da sua comunidade: “Às vezes não é de dinheiro que precisamos. Compreendermos um problema torna mais fácil lidarmos com ele. Obrigado ao AKRSP por oferecer este valioso suporte num momento tão crítico.”
Saeeda, Shigri Kalan
Saeeda é assistente social e trabalhou como agente de recursos comunitários no âmbito do projeto de resposta à Covid-19 do AKRSP. Recebeu formação acerca da importância do bem-estar mental e ajudou a organizar sessões sobre os diferentes tipos de doenças mentais que se poderiam manifestar a partir da pandemia, incluindo depressão, ansiedade, ataques de pânico e fobia social.
Nesta região, é frequente o uso de amuletos e talismãs para tratar doenças mentais, e esta foi a primeira vez que muitos membros da sua comunidade ouviram falar de saúde mental. Saeeda informou os seus vizinhos acerca do tema e ajudou aqueles que estavam doentes e sem reação à medicação a procurar serviços de apoio a nível local, apoiados pelo AKRSP, para lidarem com os sintomas.
“Estou orgulhosa por ter sido capaz de usar a minha formação para o bem e quero continuar a fazê-lo”, disse. “Sinto-me mais preparada para ajudar a minha comunidade a compreender a importância de uma boa saúde mental.”
Atiya, Gilguite
Atiya é uma voluntária que já estava familiarizada com o trabalho anterior do AKRSP ao nível da organização do apoio local e de emergência na sua comunidade. Ela participou da sessão de formação “Impacto Psicológico da Covid-19” e compreendeu de imediato os seus benefícios.
“As pessoas ficaram muito assustadas após a primeira e a segunda vaga da Covid-19. Mas na terceira vaga, já levaram menos a sério o impacto da doença. À medida que os números de infetados a nível nacional iam aumentando e tirando mais vidas, as comunidades começaram a entender que esta nova vaga era perigosa e isso teve um impacto a nível mental. Por isso, tomei a iniciativa de transmitir a mensagem às comunidades após o pedido do AKRSP para que organizássemos uma sessão acerca do impacto da Covid-19. Estas sessões ajudaram as pessoas a sair de situações psicológicas difíceis.”
Sentindo-se inspirada, Atiya estudou a literatura relativa à Covid-19 fornecida pelo AKRSP e começou a visitar os membros da sua comunidade para educar aqueles que estavam mais relutantes em seguir as medidas de segurança. Tem sido bem-sucedida na tarefa de informar a população acerca da gravidade da pandemia, distribuindo igualmente equipamentos de proteção para ajudar a controlar a propagação da doença.
Embora os efeitos psicológicos da Covid-19 possam ser invisíveis, o desgaste associado à pandemia foi grande. Graças a mulheres como Fátima, Saeeda e Atiya, as comunidades do norte do Paquistão estão a começar a recuperar emocional e mentalmente.
“Iniciativas fundamentais de preparação, prontidão e resposta à pandemia do coronavírus em Gilguite-Baltistão e Chitral” é um projeto financiado pela União Europeia e pela Fundação Aga Khan e implementado pelas agências da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. Os pontos de vista e opiniões expressos não refletem necessariamente os da União Europeia.